Judaísmo Contemporâneo: Filosofia e Literatura Judaicas

Para pensar a relevância dos estudos judaicos

No dia 31 de julho último, o LABÔ organizou uma roda de conversa sobre a importância dos estudos judaicos contemporâneos com os professores doutores Juliana de Albuquerque, Anelise Fróes, Michel Gherman e eu, Andréa Kogan.

Vimos a necessidade de falarmos sobre o assunto, já que o LABÔ vem se dedicando a este estudo desde “antes do LABÔ”. Ou melhor, muitos de nós, pesquisadores e coordenadores, fizemos nossos estudos stricto sensu no departamento de Ciências da Religião da PUC-SP, escrevendo teses e dissertações sobre judaísmo, além de pertencermos a grupos de pesquisa que aprofundavam suas reflexões no tema do judaísmo contemporâneo.

É importante ressaltar que aqui no nosso Laboratório os temas ditos “delicados”, como aqueles que envolvem religião, são sempre estudados de maneira séria, aprofundada, sem vieses e levando em conta uma multiplicidade de olhares e visões, sem ferir ninguém. Claro que todos os grupos podem ser englobados dessa maneira, mas sabemos que alguns tópicos requerem mais delicadeza no trato do que outros. E isso é uma questão posta por nossa diretoria acadêmica.

A importância de novos pesquisadores na área, com novas temáticas, também é levada a sério. Tratamos, neste encontro do dia 31, a questão de um pesquisador não se tornar especialista em um determinado tema de um dia para o outro. Há trabalho, há dedicação, há estudos ad infinitum. E há a nossa orientação, pessoas que estão na área há mais tempo e que devem indicar os caminhos para os que chegam. Como disse o professor Michel Gherman, os estudos judaicos demandam muito – pois precisamos também de conceitos profundos ligados à religião para discutirmos questões políticas, por exemplo.

Cada um vem com a sua bagagem em seu campo de estudos ou constrói sua carreira de acordo com seus mentores e orientadores. Eu, Andréa, sinto que Abraham Joshua Heschel me orienta desde que o conheci, mais do que outros que me acompanham desde que me conheço como judia. Ou melhor, desde que nasci.

Heschel me faz entender o judaísmo a partir do ponto da ação, a partir do ponto da conexão com outras religiões e a partir do que é viver um judaísmo no momento que estou vivendo, isto é, como brasileira, morando em São Paulo, em 2023, aos 49 anos. Não há como viver o judaísmo como polonesa ortodoxa, na Europa do Leste em 1840. Se fosse assim, ele chamaria de “plágio religioso”.

O que é viver o judaísmo agora?

Seguindo meu mestre, é entender o que estamos experienciando neste momento e agir, de acordo com o que você pode fazer, agora. Por isso a roda de conversa sobre judaísmo contemporâneo. Porque precisamos entender que em 2023 o mundo abrange redes sociais, antissemitismo, tensões políticas em Israel e desinformação crescente, com pessoas sendo “instruídas” por threads no Twitter. Como brincamos informalmente, vemos que os especialistas em Ucrânia, formados pelas redes sociais em dois dias, viraram os especialistas em política no Oriente Médio formados por tweets, threads e opiniões enviesadas de alguns vídeos de cinco minutos do YouTube.

Fazer a minha parte é estudar, discutir, saber que é preciso conversar não somente com meus pares, mas com uma audiência cada vez maior, e manter a seriedade e a profundidade nas pesquisas. Cada um na sua área, cada um tentando se especializar naquilo que faz, mas, ao mesmo tempo, abrindo-se à discussão para muito além da comunidade.

Heschel dizia em sua época (principalmente em relação à Guerra do Vietnã e em relação aos movimentos de direitos civis com seu amigo Martin Luther King Jr) que o momento exigia GRANDEZA MORAL E AUDÁCIA ESPIRITUAL.

E isso deve ser repetido sempre, pois é eterno. O momento em que vivemos exige grandeza moral e audácia espiritual. Pense nisso.

Imagem: John C. Goodwin

Sobre o autor

Andréa Kogan

Formada em Letras, doutora em Ciências da Religião pela PUC-SP, autora do livro “Espiritismo Judaico”, assistente acadêmica do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP – LABÔ, onde também é coordenadora do grupo de pesquisa sobre Morte e Pós-Morte e pesquisadora do grupo de Judaísmo Contemporâneo.