Imaginemos juntos uma situação não tão impossível de acontecer. Você é um petista de carteirinha, vota desde sempre nos candidatos que são escolhidos pelo partido, tanto para os cargos majoritários quanto para o legislativo, no municipal, no estado ou na federação. Um belo – ou horrível – dia, seu filho ou filha de 22 anos começa a namorar uma pessoa que desde sempre votou em partidos de oposição ao PT. Pensemos também na situação inversa, pais que declaram seus votos em partidos de direita e que descobrem que seus filhos ou filhas estão apaixonados por alguém que acha o PSOL a solução para o Brasil. Qual seria a sua reação?
Pois então, esta é uma preocupação, ao menos nos Estados Unidos, desde as eleições de 1960, aquela que opôs John Kennedy a Richard Nixon. O alto nível de polarização – Kennedy foi eleito com 49,7% dos votos, frente a 49,5% dos eleitores que escolheram Nixon –, no entanto, não repercutiu nessa preocupação em relação a com quem seu filho ou filha se casaria, se com um Democrata ou um Republicano. Somente 4% dois pais democratas ou republicanos tinham restrição se seu filho ou filha se casasse com alguém do partido oposto.
A mesma pergunta feita na atualidade apresentou o seguinte resultado: 35% dos pais republicanos não suportam a ideia de ter um genro ou nora democrata. E 45% dos pais democratas nem sonham em ver seus filhos e filhas namorando com alguém que seja republicano. Interessante observar que o perfil democrata é o que mais rejeita esta possibilidade, bem como é o que continua a crescer nesta direção. Nos Estados Unidos, o partido democrata pode ser associado à posição liberal nos costumes e mais intervencionista na economia, o que o aproximaria das denominações de esquerda em nosso país. Já os republicanos, grosso modo, poderiam ser associados aos partidos políticos brasileiros com um perfil mais conservador e com o acento liberal na economia.
O tema é este. Mas vamos ver as fontes de toda esta conversa, do foco quanto às instituições que realizaram estas pesquisas de opinião e, no final, faço uma proposta.
Este assunto foi recuperado por um editorial não assinado do The Roanoke Times do Estado da Virginia, Estados Unidos, de 16 de outubro de 2019, Why Romeo and Juliet still Matters. A pergunta, realizada em 1960, fazia parte de uma pesquisa empírica – survey – que foi coordenada pela American National Election Studies – ANES – instituição que faz pesquisa de campo e que produz dados empíricos sobre as eleições presidenciais nos Estados Unidos. A ANES foi fundada em 1948, e tem como parceiros as universidades de Michigan e Stanford. A mesma pergunta, que foi feita neste ano de 2019, fez parte de uma pesquisa encomendada pela The Atlantic Magazine.
Iniciei este post propondo a reflexão sobre o caso brasileiro, mesmo sabendo que não temos a prática em nosso país de pesquisas de opinião que busquem mapear esse tipo de cruzamento. A pesquisa em comportamento político busca exatamente isto: uma vez que nos encontramos numa era de demarcação de gostos, de atitudes, daquilo que gostamos ou não, enfim, as escolhas políticas passam também pelas nossas reações mais pessoais. É isto o que queremos dizer quando observamos que questões de gênero, de identidade, raciais ou estéticas estão muito próximas do que no passado catalogávamos somente por política.
A propósito, o fato de você gostar de filme coreano, apreciar o molho tarê, curtir praias do litoral norte de São Paulo, querer ter uma SUV automática o aproxima de qual posição política?
O Grupo de Pesquisa em Comportamento Político do Labô quer produzir estes tipos de dados, interpretá-los e inseri-los no debate público.
Imagem: J.L. Lith/Metropolitan Litho Studio/US Library of Congress’s Prints and Photographs division