Revista Laboratório Temática 4 – Arte Sacra Contemporânea: Religião e História

O ciclo iconográfico da Vida de São Francisco de Assis na Cripta de São Pio em São Giovanni Rotondo (Itália) e algumas correspondências temáticas em Retábulos, Ciclos e Vitrais do século XIII

Resumo: O presente artigo tem como objetivo principal introduzir a temática da iconografia franciscana e sua figuração na arte sacra contemporânea. Para tal, tomar-se-á o exemplo do ciclo iconográfico de São Francisco de Assis representado na Cripta da Igreja de São Pio de Pietrelcina, em San Giovanni Rotondo (Itália), executado pelo Centro Aletti entre os anos de 2009 e 2013, buscando elucidar algumas correspondências temáticas com a iconografia de Retábulos, Ciclos e Vitrais do século XIII.

Palavras-chave: São Francisco de Assis; Iconografia Cristã; Centro Aletti; Mosaico.

Introdução

O jovem assisense Francisco di Bernardone nasceu na baixa Idade Média, na virada entre os séculos XII e XIII, período marcado por um grande impulso da sociedade medieval (LECLERC, 2012, pp. 19-38). Com o desenvolvimento de seu itinerário humano-espiritual, bastante original, Francisco de Assis se tornou um dos santos mais admirados da história do cristianismo. Igualmente, um dos santos mais representados na história da arte cristã (DUCHET-SUCHAUX; PASTOUREAU, 1994, p. 163), sobretudo na Itália (KAFTAL, 1965, p. 469).

Na história da iconografia franciscana, observa-se que os motivos iconográficos foram sofrendo alterações significativas ao longo dos séculos, de acordo com as concepções artísticas, religiosas e sociais, mas, sobretudo, por causa das latentes tensões no seio das Ordens Franciscanas. Sobre a iconografia franciscana, constata-se um paradoxo:

os especialistas dos estudos franciscanos, que se apaixonaram pelos textos hagiográficos sobre o Pobre de Assis e criaram polêmicas entre eles durante quase um século, só se interessaram pela sua iconografia a partir dos anos 1980. Essa lacuna fundamental deve-se sem dúvida ao fato de os historiadores durante muito tempo considerarem as imagens simples reflexos dos textos escritos em que seus autores se teriam inspirado. Volvidos alguns decênios, tornaram-se conscientes da especificidade das fontes iconográficas que não devem ser consideradas como simples ilustrações e que, mesmo quando se inspiram em textos bem identificados, conservam uma larga autonomia em relação a estes textos (VAUCHEZ, 2013, p. 265).

De acordo com a intuição de Alberto Manguel, uma imagem, pintada, esculpida, fotografada, construída e emoldurada é também um palco, um local para representação. O que o artista põe naquele palco e o que o espectador vê nele como representação confere à imagem um teor dramático, como que capaz de prolongar sua existência por meio de uma história cujo começo foi perdido pelo espectador e cujo final o artista não tem como conhecer (MANGUEL, 2001, p. 291).

A noção defendida por Manguel aplica-se com perfeição à longa e intrigante história da iconografia franciscana, desde o século XIII até a contemporaneidade. Sob essa perspectiva, o objetivo deste artigo é trazer uma pequena amostra destas imagens identificando os temas iconográficos da vida de Francisco de Assis representados na Cripta da Igreja de São Pio de Pietrelcina, em San Giovanni Rotondo (Itália), executadas pelo jesuíta Marko Ivan Rupnik e o Centro Aletti entre os anos de 2009 e 2013, e algumas correspondências temáticas em Retábulos, Ciclos e Vitrais do século XIII. 

1) Marko Ivan Rupnik e a execução da obra em São Giovanni Rotondo

O Ateliê de Arte Espiritual conhecido como Centro Aletti é dirigido desde 1995 pelo artista sacro e mosaicista Marko Ivan Rupnik (1954-). Ele que “desde a infância amava as cores” (TOMMASO, 2022, p. 153), nasceu na cidade de Zadlog, Eslovênia, em 28 de novembro de 1954. Chamado à vocação religiosa, ingressou em 1973 na Companhia de Jesus. Quando noviço jesuíta, “a vida interior o chamava a se expressar na pintura” (Ibidem).

Formou-se em filosofia em Liubliana e ingressou na Academia de Belas Artes, em Roma, no ano de 1977. Foi influenciado pelos grandes artistas do século XX e desenvolveu-se como “um artista expressionista, informal e explosivo” (Ibidem). Posteriormente, em 1985, foi ordenado presbítero, e, em 1991, doutorou-se em teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, onde é professor. Foi orientado em seu doutoramento pelo Cardeal Tomáš Špidlík (1919-2010), que foi seu diretor espiritual e grande amigo com quem fundou o Centro Aletti, local em que o cardeal viveu até sua morte.

O Centro Aletti foi chamado a trabalhar em San Giovanni Rotondo, na Igreja de São Pio de Pietralcina, e iniciou o projeto em 2009. Em abril foi criado o mosaico da rampa de acesso à Igreja Inferior e Cripta, cujas paredes laterais têm cenas da vida de São Francisco e São Pio. Em junho de 2009, foram executados o mosaico e os móveis da Cripta. Em abril de 2010, o mosaico do crucifixo, São Pio e o altar externo. Finalmente, entre maio de 2012 e abril de 2013 foi concluída a pintura na Capela do Santíssimo Sacramento.

Na descida para a rampa da Igreja Inferior, encontram-se três mosaicos introdutórios com pontos da História da Salvação: Anunciação, Encarnação e Crucificação. Nas paredes há dezesseis mosaicos com temas diversos da iconografia de São Francisco (1182-1226), paralelos à dezesseis mosaicos com passagens diversas da vida de São Pio de Pietrelcina (1887-1968).

Desse modo, contemplando os mosaicos que retratam temas iconográficos da vida de São Pio e São Francisco (vide Tabela 1), ao descer para a cripta, o peregrino encontra acolhimento e misericórdia. Esse Santuário constitui, atualmente, um importante lugar de peregrinação, culto litúrgico e atualização do carisma franciscano na figura do frade capuchinho.

Tabela 1 – Ciclos Iconográficos[1]

Ciclo de São Francisco – San Giovanni RotondoCiclo de São Pio – San Giovanni Rotondo
Batismo de São FranciscoSão Pio contempla Francisco como alter Christus
São Francisco beija o leprosoSão Pio em casa doente
São Francisco se despe diante de seu paiSão Pio luta contra o gigante
A visão de São DamiãoSão Miguel abençoa São Pio
São Francisco na entrada do Santuário de São MiguelSão Pio reza no altar em frente ao Crucifixo
São Francisco reza na grutaSão Pio banido celebra sozinho
São Francisco prega aos pássarosSão Pio espancado pelo diabo é consolado pelo menino Jesus
São Francisco tentado pelo demônio do travesseiroSão Pio crucificado com Cristo
São Francisco chora na floresta o amor de Deus não amadoSão Pio no Confessionário
São Francisco manda pregar penitência e misericórdiaSão Pio leva pão e vinho ao Cardeal Mindszenty prisioneiro
São Francisco aparece aos frades em uma carruagem de fogoSão Pio na convivência fraterna
São Francisco traz pão a um frade que o imita no jejumSão Pio responde suas correspondências
São Francisco transforma água em vinhoSão Pio abençoa as mulheres e homens de cultura
São Francisco anuncia o Evangelho ao SultãoPaternidade de São Pio nos grupos de oração
São Francisco apresenta a segunda e terceira ordens franciscanas ao SenhorSão Pio e Casa de alívio do sofrimento
São Francisco escuta a música dos anjosSão Pio no limiar do paraíso

2) As Fontes Literárias da Iconografia Franciscana

De acordo com o medievalista André Vauchez, na época em que viveu Francisco, a arte do retrato começava a renascer, pois, a partir do fim da Antiguidade, tinha-se assistido ao desaparecimento da figura humana na arte do Ocidente, e, quando esta reapareceu no século XII, conservou durante muito tempo um aspecto estereotipado e hierático, tanto na pintura mural como na escultura (VAUCHEZ, 2013, p. 266).

Esse aspecto destacado por Vauchez pode ser verificado na iconografia de Francisco de Assis, sobretudo com a expansão da Ordem e a multiplicação de igrejas e conventos. Assim, à medida que a notoriedade do Pobre de Assis aumentava através dos textos hagiográficos e da pregação, Francisco tinha de tal forma tocado seus contemporâneos que as emoções que a sua presença suscitava, a originalidade da sua relação com as pessoas e os animais, e a novidade da sua mensagem contribuíram para dar um impulso decisivo no processo de individualização da imagem que existia desde alguns decênios (Ibidem, p. 267).

Uma história retirada dos Fioretti – “pequenas flores” –, livro traduzido e resumido dos Actus Beati Francisci et sociorum eius para o italiano toscano, apresenta a questão acerca do fascínio em torno da figura de Francisco de Assis, justificando de algum modo a vasta produção imagética do santo[2]:

Uma vez, São Francisco morava no lugar da Porciúncula com Frei Masseo de Marignano, homem de grande santidade, discrição e graça quando falava de Deus, pelo que São Francisco muito o amava. Um dia, voltando São Francisco do bosque e da oração, e estando na saída do bosque, o dito Frei Masseo quis provar como ele era humilde, foi ao seu encontro, e como se falasse em provérbios, disse: “Por que a ti, por que a ti, por que a ti?”. São Francisco respondeu: “Que é que tu queres dizer?”. Disse Frei Masseo: “Eu digo: por que todo mundo se dirige a ti, e parece que todas as pessoas desejam ver-te, ouvir-te, obedecer-te? Tu não és um homem bonito de corpo, tu não és de grande ciência, tu não és nobre; então, por que todo mundo vai atrás de ti?”. Ouvindo isso, São Francisco, todo alegre em espírito, levantando o rosto para o céu, ficou muito tempo com a mente elevada em Deus; e depois, voltando a si, ajoelhou-se e deu graças a Deus; e depois se voltou com grande fervor de espírito para Frei Masseo e disse: “Queres saber por que a mim? Queres saber por que a mim? Queres saber por que todo mundo me vem atrás? Isso eu tenho por aqueles olhos do altíssimo Deus, que em todos os lugares contemplam os bons e os réus; como aqueles olhos santíssimos não viram entre os pecadores nenhum mais vil, nem mais insuficiente, nem maior pecador do que eu, e porque, para fazer aquela operação maravilhosa que ele quer fazer, não encontrou nenhuma criatura mais vil na terra; e por isso me escolheu para confundir a nobreza, grandeza, força, beleza e sabedoria do mundo, para que se saiba que toda virtude e todo bem vêm dele e não da criatura, e que nenhuma pessoa pode se gloriar diante dele; mas quem se gloria, glorie-se no Senhor, a quem pertencem toda honra e toda glória para sempre”. Então Frei Masseo, a uma resposta tão humilde, dita com fervor, se espantou e ficou sabendo com certeza que São Francisco estava verdadeiramente fundamentado na humildade.

A experiência espiritual e cristã do Santo de Assis está contida, sobretudo, em seus escritos e nas hagiografias, essas se constituíram as fontes literárias principais da iconografia franciscana, mas não só. Os ofícios litúrgicos e, principalmente, a cultura oral são fontes paralelas de grande importância. Todo esse corpus literário seria a base para as representações artísticas do primeiro século franciscano.

As Hagiografias Franciscanas, ou Legendas, se dividem em três grupos principais (vide Tabela 2), conforme afirmou Pedroso (1998), baseado em três grandes personalidades que se ocuparam em contar a vida de São Francisco: Frei Tomás de Celano, que entrou na Ordem em 1215, conheceu São Francisco, e foi encarregado de escrever as primeiras biografias; São Boaventura, que não chegou a conhecer o santo, mas teve oportunidade de falar com muitos que o conheceram, e, como um competente doutor da Igreja, escreveu a biografia considerada oficial por muitos séculos; Frei Leão, companheiro e secretário de São Francisco nos momentos mais importantes. Portanto, três grupos: Grupo Celanense, Grupo Bonaventuriano, Grupo Leonino.

Tabela 2 – Fontes Franciscanas Hagiográficas

Fontes Franciscanas Hagiográficas
1. Grupo Celenance1. Tomás de Celano escreveu: 1a. Vida I de São Francisco. Na qual trabalhou em 1228 e apresentou ao papa Gregório IX no começo de 1229. Essa biografia esteve perdida[3] de 1266 até 1768. 1b. Legenda ad usum chori. Um resumo da Vida I, feito em 1230, para os frades lerem no coro. 1c. Vida II de São Francisco. Escrita entre 1246 e 1247. Também esteve perdida entre 1266 e 1806. 1d. Tratado dos Milagres (3Cel). Escrito entre 1250 e 1252, e esteve perdido de 1266 até 1899. 1e. Também se atribui a Tomás de Celano a Legenda de Santa Clara Virgem.
2. Juliano de Spira escreveu: 2a. Um Officium rythmicum,com música, para festejar São Francisco. Continha dados da I Celano e foi composto entre 1231 e 1232. 2b. Uma Vida de São Francisco,escrita na mesma época, entre 1231 e 1232, também dependente de I Celano.
3. Henrique de Abranches, um cônego, não franciscano, escreveu em 1230 uma Legenda Sancti Francisci versificata. Baseada nas informações de I Celano, era dividida em 14 livros e abrangia 2.585 versos hexâmetros, o tipo clássico de poesia histórica.
4. João de Celano (ou de Ceprano), possivelmente um irmão de Tomás de Celano, escreveu a legenda Quasi stella matutina (Como a estrela da manhã), entre os anos 1235 e 1240, mas essa foi perdida e ainda não a encontraram.
2. Grupo Bonaventuriano  1. São BoaventuraFidanza, de Bagnoreggio, escreveu: 1a. A Legenda Maior Sancti Francisci,em que trabalhou de 1260 a 1263. 1b. A Legenda minor ad usum chori. Um resumo preparado na mesma época para os frades lerem no coro.
2. Bernardo de Bessaescreveu: Um Liber de Laudibus Sancti Francisci,entre 1280 e 1285. Bernardo foi secretário de São Boaventura.
3. Grupo Leonino1. A Carta dos Três Companheiros de Grécio,de 11 de agosto de 1246. Costuma ser publicada como introdução ao livro seguinte.
2. A Legenda dos Três Companheiros, bastante posterior, podendo ser situada entre os anos 1290 e 1310.
3. O Sacrum Commercium (nome completo Sacrum commercium Beati Francisci cum domina paupertate). A data de sua composição é discutida, mas estima-se que tenha sido escrito entre 1260 e 1270.
4. Os Dicta beati Aegidii assisiensis (Ditos de Frei Egídio). Não sabemos quando se compôs o livro, mas sabemos que Frei Egídio morreu aos 23 de março de 1262.
5. O Anônimo perusino (nome correto: De inceptione Ordinis minorum), escrito provavelmente entre 1266 e 1270.
6. A Legenda perusina (também conhecida como Legenda antiqua, Flores trium sociorum, Scripta Leonis ou Compilatio assisiensis. Ficou conhecida como Legenda perusina porque foi descoberta no códice 1046 de Perusa. Deve ter sido escrita entre 1290 e 1311.
7. O Speculum perfectionis, datado de 1318.
8. Os Actus beati Francisci et sociorum eius, em 76 capítulos escritos entre 1327 e 1340.
9. Os Fioretti de São Francisco, em 53 capítulos, uma tradução italiana feita a partir dos Actus Beati Francisci em 1380 ou 1396.

Essas Vidas de Frei Francisco[4]estiveram na base da produção pictórica durante todo o século XIII e fazem parte da discutida Questão Franciscana.[5] Da obra de Tomás de Celano, primeiro biógrafo de Francisco, podemos ler dois extratos principais, os quais descrevem a aparência de Francisco de Assis. O primeiro está no texto “A lenda do nosso beato pai Francisco”[6], escrito entre os anos de 1228-1229, e a segunda está no “Memorial do desejo da alma”[7], redigido entre os anos de 1246-1247:

[São Francisco] Era de estatura um pouco abaixo da média, cabeça proporcionada e redonda, rosto um tanto longo e fino, testa plana e curta, olhos nem grandes nem pequenos, negros e simples, cabelos castanhos, pestanas retas, nariz proporcional, delgado e reto, orelhas levantadas mas pequenas, têmporas chatas, língua apaziguante, fogosa e aguda, voz forte, doce, clara e sonora, dentes unidos, iguais e brancos, lábios pequenos e delgados, barba preta e um tanto rala, pescoço fino, ombros retos, braços curtos, mãos delicadas, dedos longos, unhas compridas, pernas finas, pés pequenos, pele fina, descarnado, roupa rude, sono muito curto, trabalho continuo[8].

(…)

Essa galinha sou eu, pequeno e moreno por natureza (…)[9].

Entretanto, de acordo com Vauchez, “fora destes textos hagiográficos, dispomos de um testemunho que confirma, com certeza, que Francisco estava longe de ser um Adónis: o cronista Thomas de Split diz-nos que “vestia um hábito velho; toda a sua pessoa parecia insignificante; o rosto não era belo.” (2013, p. 266)

3) A Iconografia Franciscana em San Giovanni Rotondo e algumas correspondências temáticas em Retábulos, Ciclos e Vitraisdo século XIII

Não obstante o longo debate acerca da iconografia franciscana[10] na história da arte, deve-se compreender, de antemão, que as representações visuais no discurso religioso se projetam como instrumento poderoso de persuasão e incitação às práticas religiosas, bem como à comoção e à conversão (PELEGRINELLI; VISALLI, 2013).

Naquela que teria sido a primeira imagem de Francisco, localizada na Capela de São Gregório do Sacro Speco na Abadia de Subiaco (c. 1228), nos primeiros retábulos históriados com Francisco ao centro e episódios da sua vida, ou, ainda, nos painéis de Marguerito d’Arezzo (1250-1290), os frades da Ordem e “seus primeiros iconógrafos estavam mais interessados em transmitir um retrato espiritual do que um retrato fisionômico do santo” (MORELLO, 2018, p. 11).

As figurações de Francisco darão um salto considerável na representação do florentino Cimabue (1240-1302), localizada no transepto norte da Basílica inferior de Assis, ao lado da Virgem Maria e o Menino, executada entre os anos de 1275-1280. Nessa pintura, Francisco é representado com um retrato realista, “um homem pequeno e feio, de rosto macilento e, contudo, irradiando uma extrema doçura” (VAUCHEZ, 2013, p. 267). A imagem exerce função primordial nessa igreja, como um importante locus franciscanum, e, segundo Duby:

os mendicantes, e sem dúvida os franciscanos antes de quaisquer outros, utilizaram a imagem. Uma imagem simples, demonstrativa, direta, aquela que, em todos os tempos todas as propagandas usavam nos meios populares. Para prolongar o efeito de suas palavras, sentiram a necessidade de colocar em série, lado a lado, diante dos olhos dos que os escutavam, as cenas do drama evangélico, ou as da vida de Francisco, que se identificara com Cristo a ponto de receber os estigmas. (DUBY, 1997, p. 90)

Os ciclos narrativos são, desde a Antiguidade, utilizados para a propagação da imagem revelada, mas, até o advento das Ordens Mendicantes, neles eram representados mais comumente passagens bíblicas ligadas ao Primeiro Testamento e ao Segundo Testamento, com destaque para as representações de cenas ligadas às vidas de Cristo e da Virgem (DINIZ, 2016, p. 137). Segundo Hans Belting:

a propagação dos ciclos narrativos com o tema das vidas dos santos nas igrejas e conventos ocidentais ganhou ênfase por meio da atuação das Ordens Mendicantes e, dentre essas, especialmente dos franciscanos e dominicanos que, a partir do século XIII, usaram esse tipo de conjunto imagético como meio de autorrepresentação de suas Ordens. (BELTING, 2010, p. 485)

Esses ciclos narrativo-iconográficos foram muito utilizados nas igrejas e conventos franciscanos até o final do século XV, quando observamos o seu desaparecimento quase total. Após esse período, passou-se a representar temas e cenas franciscanas mais ligadas à penitência e a conversão e Francisco começa a aparecer de maneira isolada e intimista, para voltar a ser retratado na companhia de outros santos no período pós-tridentino.

Desse ponto de vista, São Francisco de Assis constituiu-se um verdadeiro “santo imagem”[11] e, conforme afirma o pesquisador André Pelegrinelli, falar em imagem franciscana é abrir um vasto leque de possibilidades. A arte franciscana pode se referir a: a) comitência franciscana; b) autoria franciscana; c) objeto ou tema iconográfico franciscano; d) local franciscano; ou e) inspiração franciscana. Há, considerando esses parâmetros, três grandes temas que se repetem: 1) Cristo e/ou o crucifixo; 2) a Virgem; e, por fim; 3) o próprio santo fundador (PELEGRINELLI, 2018, p. 119).

Tendo percorrido este caminho e, agora, trazendo o exemplo da arte sacra contemporânea, especialmente da arte espiritual do Centro Aletti, vê-se o reaparecimento do uso dos ciclos narrativos, com temáticas iconográficas voltadas ao Primeiro e Segundo Testamentos, conforme tradição do primeiro milênio, e à vida dos santos e santas. Observa-se claramente, no conjunto de São Giovanni Rotondo, e especificamente no ciclo de São Francisco e de São Pio de Pietrelcina, a configuração de um exemplar contemporâneo de arte franciscana. Nessa perspectiva, no Ciclo de São Francisco executado pelo Centro Aletti, verifica-se que seis dos dezesseis mosaicos possuem correspondência temática com cenas de Retábulos, Ciclos e Vitraisdo século XIII, os quais serão trazidos e assinalados nas tabelas posteriores.

A vida do Poverello de Assis foi amplamente retratada em miniaturas[12] e retábulos[13], dos quais são identificados ao menos sete e traremos o exemplo de ao menos cinco. O primeiro deles é aquele atribuído a Berlinghieri (1228), que se encontra desaparecido e do qual temos apenas a reprodução realizada pelo frade e cronista capuchinho Zaccaria Boverio (1568-1638)(FRUGONI, 1993, p. 322) – vide Tabela 3. O segundo é o retábulo de Pescia, atribuído a Bonaventura Berlinghieri (1210-1287) e conservado na Igreja de São Francisco em Pescia, vide Tabela 4. O terceiro, é o retábulo Bardi, localizado na Capella Bardi, Igreja da Santa Croce, Florença, atribuído a Coppo de Marcovaldo (1225-1276), embora a atribuição não seja consenso em meio aos historiadores da arte[14] (vide Tabela 3).

Tabela 3 – Retábulo de Berlinghieri (Perdido)[15]

Retábulo de Berlinghieri (perdido) Boaventura Berlinghieri (1210-1287), c. 1228
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco prega aos pássaros, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália  

Tabela 4 – Retábulo de Pescia[16]

Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco prega aos pássaros, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália
Retábulo de Pescia. Boaventura Berlinghieri (1210-1287). São Francisco e seis histórias de sua vida, 1235. Têmpera sobre Madeira, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Francisco, Pescia, Itália  

Tabela 5 – Retábulo Bardi[17]

Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco se despe diante de seu pai, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco prega aos pássaros, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália
Retábulo Bardi. Mestre de São Francisco Bardi (ou Coppo de Marcovaldo 1225-1276). São Francisco e vinte histórias de sua vida, c. 1240. Têmpera sobre madeira, 234 x 127 cm. Capella Bardi, Igreja da Santa Croce, Florença, Itália  
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco beija o leproso, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália [18]
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco anuncia o Evangelho ao Sultão, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália

Não obstante a função desses retábulos e as polêmicas – como a do capuz[19] e do hábito[20] –, os pintores franciscanos do século XIII transmitiram uma imagem bem precisa do santo de Assis. A figura de aparência frágil, pelas privações a que se submetia e, acima de tudo, as imagens apresentadas nas cenas de acompanhamento, em geral modeladas com base no relato presente tanto na Vita Prima e Secondade Tomás de Celano, quanto na Legenda maiorde Boaventura de Bagnoregio, veicularam uma representação do santo de Assis destinada a perdurar no tempo. Observou-se corretamente que esses “quadros historiados”, difundidos após a canonização de Francisco, traziam o santo tal como se considerava ser seu retrato, ao passo que a representação dos episódios de sua vida, além de aumentarem seu culto, constituíam uma espécie de resposta às vozes hostis e aos detratores dos milagres do santo[21].

Podemos observar mais dois extratos desses retábulos e as cenas temáticas correspondentes no Ciclo de São Francisco em San Giovanni Rotondo. O retábulo de Orte, executado, provavelmente, entre os anos de 1260 e 1270, atribuído ao Mestre de São João Batista Paliotto, localizado no Museu Diocesano de Arte Sacra (vide Tabela 6), e o retábulo de Siena, atribuído a Guido de Graziano, localizado na Pinacoteca Nacional de Siena, 1280, (vide Tabela 7).

Tabela 6 – Retábulo de Orte[22]

Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco anuncia o Evangelho ao Sultão, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália
Retábulo de Orte. Mestre de São João Batista Paliotto. São Francisco e quatro cenas. Museu Diocesano de Arte Sacra (Lácio, Itália), 1260-1270  
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco prega aos pássaros, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália

Tabela 7 – Retábulo de Siena[23]

Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco prega aos pássaros, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. A visão de São Damião, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália
Retábulo de Siena. Guido de Graziano, Pinacoteca Nacional de Siena, 1280. (COOK, 1999, p. 209)  
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco aparece aos frades em uma carruagem de fogo, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco se despe diante de seu pai, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália

Dos retábulos historiados, chega-se às figurações das paredes afrescadas. Francisco foi canonizado em 17 de julho de 1228 e, naquela ocasião, foi lançada a pedra fundamental da Basílica dedicada ao santo em Assis. Ela possui duas igrejas superpostas, a inferior – ou menor – (iniciada em 1228) e a superior – ou maior – (iniciada em 1239), ambas dedicadas em 1253 pelo Papa Inocêncio IV. Na cripta dessa Basílica “antifranciscana”, como afirma Jacques Le Goff (2011, p. 91), será depositado o corpo de Francisco, em 1230, trazido da Igreja de São Jorge. Na igreja inferior de Assis, terá lugar o primeiro ciclo de afrescos da vida de São Francisco executado pelo anônimo “Mestre de São Francisco” – provavelmente entre os anos de 1255 e 1263 –, e retrata, em paralelo, episódios do repertório iconográfico da vida de Cristo e Francisco[24]. Nesses dois extratos, pode-se observar duas cenas temáticas correspondentes no Ciclo de São Francisco em San Giovanni Rotondo (Tabela 8).

Tabela 8 – Ciclo da Igreja Inferior[25]

Ciclo da Igreja Inferior. Mestre de São Francisco. Renúncia aos bens. Igreja Inferior, Basílica de São Francisco, Assis, 1260-1265
Ciclo da Igreja Inferior. Mestre de São Francisco. Pregação aos pássaros. Igreja Inferior, Basílica de São Francisco, Assis, 1260-1265
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco se despe diante de seu pai, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco prega aos pássaros, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália

Ainda na igreja inferior de Assis, terá lugar um duplo vitral sobre a vida de Francisco em paralelo com a vida de Antônio, atribuído ao já citado Mestre de São Francisco, e provavelmente executado por volta do ano de 1275 (vide Tabela 9).

Tabela 9 – Vitral da Igreja Superior[26]

Vitral da Igreja Superior da Basílica de São Francisco A. São Francisco/B. Santo Antônio. Mestre de São Francisco, c.1275
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco prega aos pássaros, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. A visão de São Damião, 2009. Mosaico, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Pio de Pietrelcina, San Giovanni Rotondo, Itália

Durante o pontificado de Nicolau V (1288-1292), o primeiro papa franciscano, o primeiro ciclo de afrescos da vida de São Francisco, em paralelo à Paixão de Cristo, é parcialmente destruído para a construção de capelas laterais. Pouco tempo depois, na Basílica superior, sob encomenda de Giovanni di Mura, ministro-geral da Ordem Franciscana, inicia-se a execução do grandioso e mais importante ciclo decorativo envolvendo a iconografia de Francisco, o “ciclo-monumento” de Giotto di Bondone. Assim, “a irrupção de Giotto de Bondone no cenário artístico iria revolucionar a tradição iconográfica do santo emaciado e, ao mesmo tempo, determinar a extinção dos quadros figurados.”[27]

A pintura de Giotto di Bondone apresenta os primeiros traços da pintura de perspectiva na Europa, além de ser marcada pela identificação dos santos com seres humanos de aparência comum, dando-lhes um ar mais humanizado e próximo das pessoas, antecipando a visão humanista do Renascimento[28]. A série giottesca de 28 afrescos[29] tornou-se a representação mais conhecida do Poverello, e foi baseada na Legenda Maior (1263), de São Boaventura (DOZZINI, 1997). Giotto di Bondone é responsável pela iconografia da vida de Francisco de Assis considerada a fundadora do seu tipo iconográfico e a mais difundida. Os painéis de Giotto espalhados em diversas igrejas e conventos franciscanos, associados à propagação das hagiografias de Francisco, ajudaram a disseminar a devoção ao santo na virada do século XIII para século XIV em toda a Itália (vide Tabela 10).

Tabela 10 – Ciclo da Igreja Superior

Ciclo da Igreja Superior. Giotto di Bondone. Renúncia aos bens. Igreja Superior, Basílica de São Francisco, Assis, 1290-1295
Ciclo da Igreja Superior. Giotto di Bondone. Prova de fogo diante do Sultão. Igreja Superior, Basílica de São Francisco, Assis, 1290-1295
Ciclo da Igreja Superior. Giotto di Bondone. Prova de fogo diante do Sultão. Igreja Superior, Basílica de São Francisco, Assis, 1290-1295
Ciclo da Igreja Superior. Giotto di Bondone. A Pregação aos pássaros. Igreja Superior, Basílica de São Francisco, Assis, 1290-1295
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco se despe diante de seu pai, 2009.
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco aparece aos frades em uma carruagem de fogo
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco anuncia o Evangelho ao Sultão
Ciclo de São Francisco. Marko Ivan Rupnik e Ateliê. São Francisco prega aos pássaros

Conclusão

Ao analisarmos a iconografia franciscana e, de maneira especial, o ciclo de São Francisco em San Giovanni Rotondo, executado em mosaico pelo Ateliê Centro Aletti, e os temas iconográficos por eles desenvolvidos, podemos inferir algumas observações importantes.

Houve no Ciclo de São Francisco o desejo latente da evocação da memória do santo e uma clara proposta de “atualização” dessa memória na figura de São Pio, ao mesmo tempo em que se evidencia a vivacidade do carisma franciscano e a atualidade de sua proposta, o que pode ser observado nas correspondências temáticas em Retábulos, Ciclos e Vitraisdo século XIII, que evocam temas caros à história e espiritualidade franciscanas, conforme sintetizado abaixo.

Tabela 11 – Correspondência Temática

Ciclo Franciscano – San Giovanni RotondoCorrespondência Temática em Retábulos, Ciclos e Vitrais do século XIII.
1 – Batismo de São Francisco.Correspondência não localizada.
2 – São Francisco beija o leproso.*Retábulo Bardi – Mestre de São Francisco Bardi.
3 – São Francisco se despe diante de seu pai.*Retábulo Bardi – Mestre de São Francisco Bardi. *Retábulo de Siena – Guido de Graziano. *Ciclo da Igreja Inferior – Mestre de São Francisco. *Ciclo da Igreja Superior – Giotto di Bondone.
4 – A visão de São Damião.*Retábulo de Siena – Guido de Graziano. *Vitral da Igreja Superior da Basílica de São Francisco – Mestre de São Francisco.
5 – São Francisco na entrada do Santuário de São Miguel.Correspondência não localizada.
6 – São Francisco reza na gruta.Correspondência não localizada.
7 – São Francisco prega aos pássaros.*Retábulo de Berlinghieri (perdido). *Retábulo de Pescia – Boaventura Berlinghieri. *Retábulo Bardi – Mestre de São Francisco Bardi. *Retábulo de Orte – Mestre de São João Batista Paliotto. *Retábulo de Siena – Guido de Graziano. *Ciclo da Igreja Inferior – Mestre de São Francisco. *Vitral da Igreja Superior da Basílica de São Francisco – Mestre de São Francisco. *Ciclo da Igreja Superior – Giotto di Bondone. *Estigmatização de São Francisco – Louvre (Cena 3) – Giotto di Bondone.
8 – São Francisco tentado pelo demônio do travesseiro.Correspondência não localizada.
9 – São Francisco chora na floresta o amor de Deus não amado.Correspondência não localizada.
10 – São Francisco manda pregar penitência e misericórdia.Correspondência não localizada.
11 – São Francisco aparece aos frades em uma carruagem de fogo.*Retábulo de Siena – Guido de Graziano. *Ciclo da Igreja Superior – Giotto di Bondone.
12 – São Francisco traz pão a um frade que o imita no jejum.Correspondência não localizada.
13 – São Francisco transforma água em vinho.Correspondência não localizada.
14 – São Francisco anuncia o Evangelho ao Sultão.*Retábulo Bardi – Mestre de São Francisco Bardi. *Retábulo de Orte – Mestre de São João Batista Paliotto. *Ciclo da Igreja Superior – Giotto di Bondone.
15 – São Francisco apresenta a segunda e terceira ordens franciscanas ao Senhor.Correspondência não localizada.
16 – São Francisco escuta a música dos anjos.Correspondência não localizada.

Em relação aos temas iconográficos desenvolvidos, não houve puramente uma “continuidade” das principais cenas da vida de São Francisco desde o século XIII. Há rupturas significativas e silêncios denunciadores em relação a alguns deles, devido às transformações internas no seio das Ordens Franciscanas, como, por exemplo, o quase total desaparecimento da cena do beijo do leproso e do cuidado com leprosos e, ainda, da passagem do encontro de Francisco com o sultão, temáticas tão sensíveis quanto urgentes na contemporaneidade (OLIVEIRA, 2022).

Nos mosaicos do ciclo franciscano de São Giovanni Rotondo, observamos o “reaparecimento” de figurações que representam uma “ferida” na história franciscana, tais como o cuidado com os pobres (leprosos) e a busca do diálogo com o diferente (sultão/islã), realidades por vezes esquecidas ou silenciadas. Há, igualmente, uma abordagem de figurações já consolidadas, como cenas referentes à intimidade com Deus, o despojamento, as ordens franciscanas, a misericórdia, a pregação e a estigmatização.

O ciclo iconográfico abordado se insere naquilo que se espera de uma arte que se propõe sacra, isto é, conduzir ao mistério, servir à liturgia, e lançar convite ao seguimento de Cristo, de acordo com o que se lê em um trecho da entrevista de Marko Rupnik sobre a essência da arte sacra[30]:

a arte na liturgia é como a liturgia, nunca está completa. Porque da parte do homem nós apresentamos a oferta. Mas não está completa a oferta, tem que vir o Espírito Santo. E isto é muito belo, pois o homem não pode fazer de si mesmo uma obra completa, uma perfeição. É Deus quem aperfeiçoa, é Deus quem cumpre em nós aquilo que fica depois da morte. Não deve ser uma arte completa, porque pode fascinar, mas aborrece. Tem que ser uma arte que convida, que nos faça curiosos, que não seja invasiva, mas humilde49

Por fim, os mosaicos de San Giovanni Rotondo cumprem sua função enquanto arte sacra, a saber, simbolizar elementos da vida cristã e, ao mesmo tempo, convocar os peregrinos ao aprofundamento na beleza da vida nova trazida por Cristo nos exemplos dos santos, neste caso São Pio, seguidor dos passos de São Francisco de Assis.

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Notas

[1] Para consultar detalhes do projeto e fotos, conferir: https://www.centroaletti.com/opere/cripta-rampa-della-chiesa-inferiore-san-pio-pietrelcina-parte-ii-iii-2009-2010/. Acesso em 31 de maio de 2022.

[2] Fioretti di messer santo francesco e d’alquanti suoi santi compagni, n.10.

[3] Quando dizemos que alguns livros ficaram perdidos foi porque o Capítulo Geral da Ordem, celebrado em 1263, em Pisa, adotou a Legenda Maior de São Boaventura como biografia oficial, e o Capítulo Geral de Paris (1266) mandou eliminar todas as outras. O capítulo de Pádua (1276) autorizou a recomeçar as pesquisas e publicações a respeito de São Francisco. Assim, não ficamos só com a Legenda Maior. Em 2015 foi descoberta a Vita Brevior – Vida de nosso bem-aventurado pai Francisco – (1232-1239), biografia que confirmou a hipótese do medievalista Jacques Dalarun de que existia uma outra biografia escrita por Tomás de Celano antes da Vida II, até então desaparecida. (Cf. DALARUN, Jacques. A Vida Descoberta de Francisco de Assis. Tradução de Igor Salomão Teixeira. Rio Grande do Sul: UFRGS, 2016).

[4] Cf. Histórias de Franciscos: a pluralidade de vidas de Francisco de Assis no primeiro século franciscano. In: PELEGRINELLI, André Luiz Marcondes. Francisco de Assis e a Visualidade: ver para crer, ver para ser. Uma História de Política e Devoção na Basílica de Assis (século XIII). 2018. 189p. Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-Graduação em História Social) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2018, pp. 39-75.

[5] “A Questão Franciscana é um debate comum no estudo do franciscanismo, especialmente após as críticas despertadas pela inflamada obra de Sabatier (1894). Trata-se da leitura interdisciplinar das fontes referentes a Francisco de Assis e à primeira comunidade, especialmente produzidas entre os séculos XIII e XIV. A tomada de consciência do impacto das censuras sofridas nos textos hagiográficos levou os pesquisadores a se indagarem sobre como essa rede de textos se construiu e se modificou, ora fazendo surgir ora esconder uma representação de Francisco mais próximo do homem que existiu. Para tal, estabeleceu-se uma rede de estudos paleográficos, históricos, teológicos, hermenêuticos e linguísticos (apenas para citar as áreas em que se encontra maior número de produções) que buscam estabelecer as citações possíveis entre os textos, as passagens censuradas, criadas etc. A Questão Franciscana é fortemente alimentada pelo imaginário religioso e social em torno de Francisco: prevalece uma literatura – não exclusivamente científica –, em busca do Francisco real, apagado, impulsionado pelo sentimento religioso e identitário.” (PELEGRINELLI, 2018, p. 41).

[6] Vita beati patri nostri Francisci (Vida Primeira).

[7] Memoriale in Desiderio animae (Vida Segunda).

[8] Vita beati patri nostri Francisci, n. 83

[9] Memoriale in Desiderio animae, n. 24.

[10] Sobre a iconografia franciscana, a historiadora italiana Chiara Frugoni teve um papel muito importante, estudando a evolução iconográfica das representações dos estigmas de São Francisco na arte italiana e europeia dos séculos XIII e XIV e mostrando que as representações dão informações válidas e originais, o que pode ser visto na obra: FRUGONI, Chiara. Francesco e l’invenzione delle stimmate: una storia per parole e immagini fino a Bonaventura e Giotto. Torino: Einaudi, 1993. Outras obras oferecem boas contribuições sobre o tema, tais como: LUACES, Joaquín, Yarza. La imagen del fraile franciscano. In: VI Semana de Estudios Medievais, 1996, Najera, Espiritualidad, Franciscanismo. Najera: Logroño (Ed. Instituto de Estudios Riojanos), 1996; VEGA, Virgilio Bermejo. La Difusión de la iconografía franciscana a fines de la Edad Media. “Il Poverello” de Asís en la entalladura del siglo XV. In: VI Semana de Estudios Medievais, 1996, Najera, Espiritualidad, Franciscanismo. Najera: Logroño (Ed. Instituto de Estudios Riojanos), 1996; MORES, F. Alle origini dell’immagine di Francesco d’Assisi. Pádua, 2004; SCARPELLINI, L. Iconografia Francescana nei secoli XII-XIV, em RUSCONI, R. Francesco d’Assisi: Storia e arte. Milão, 1982, pp. 91-126; COOK, W.R. Images of st Francis of Assisi: in painting, stone and glass from the earliest images to ca. 1320 in Italy: a catalogue, Florença, 1999; TARTUFERI, Angelo; D’ARELLI, Francesco (orgs.) L’Arte di Francesco. Capolavori d’arte italiana e terre d’Asia dal XIII al XV secolo. Firenze: Giunti Editore, 2015.

[11] DUCHET-SUCHAUX, Gaston; PASTOUREAU, Michel. La Bible et les Saintes. Guide Iconographique. Paris: Flammarion, 1994, p. 164 apud DUBY, Georges. et al. História artística da Europa. A Idade Média. Tomo I. São Paulo: Paz e Terra, 1997, p. 90.

[12] Biblia de la Biblioteca Malatestiana de Cesena, Gêneses, f.7, 1280; Antifonário de São Francisco de Cortona, Biblioteca Comunale, f. 2, 1260-1279. Também outras representações como ao menos sete figuras de Margaritone de Arezzo; e o mosaico da Absíde de São João de Latrão em Roma, obra de Jacopo Torritti, em 1290, o mesmo mosaico aparecera em Santa Maria Maior, em 1296. Cf. LUACES, Joaquín, Yarza. La imagen del fraile franciscano. In: VI Semana de Estudios Medievais, 1996, Najera, Espiritualidad, Franciscanismo. Najera: Logroño (Ed. Instituto de Estudios Riojanos), 1996.

[13] KRÜGER, Klaus, «Un santo al que se accede contemplándolo: la imagen de san Francisco en las tablas del siglo XIII», em Francisco de Asís y el primer siglo de historia franciscana.(Colección Hermano Francisco, n. 37). Oñati, Ed. Franciscana Aránzazu, 1999, 163-181; VISALLI, Angelita Marques. O retábulo no seu lugar: uma reflexão sobre a constituição de uma novidade franciscana no século XIII. Antíteses, [S.l.], v. 12, n. 24, pp. 175-203, dez. 2019. Disponível em: <https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/38180>. Acesso em 02 de junho de 2022.

[14] MORELLO, Giovanni. A imagem do Pobrezinho de Assis. In: Catálogo da Exposição São Francisco na Arte de Mestres Italianos. Belo Horizonte: Casa Fiat de Cultura, 2018, nota 22.

[15] COOK, W.R. Images of st Francis of Assisi: in painting, stone and glass from the earliest images to ca. 1320 in Italy: a catalogue, Florença, 1999, p. 265. 

[16] BERLINGHIERI, Boaventura. São Francisco, e seis histórias de sua vida, 1235. Têmpera sobre Madeira, sem informações sobre as dimensões. Igreja de São Francisco, Pescia, Itália. Disponível em: <https://goo.gl/images/tMvM4i>. Acesso em 03 de junho de 2022.

[17] MESTRE DE SÃO FRANCISCO BARDI. São Francisco e vinte histórias de sua vida, c. 1240. Têmpera sobre madeira, 234 x 127 cm. Capella Bardi, Igreja da Santa Croce, Florença, Itália. Disponível em: <https://goo.gl/images/rfmLon>. Acesso em 03 de junho de 2022.

[18] No retábulo Bardi, não encontramos, especificamente, a cena de Francisco beijando o leproso, mas sim cuidando dos leprosos conforme assinado na imagem.

[19] “Sobre a querela do capuz, afirma Morello: um dos temas das disputas, muitas vezes candentes, que ocuparam por muito tempo as duas linhas da Ordem, dividida entre os conventuais e os observantes – aos quais depois se acrescentaram os capuchinhos –, referia-se, com efeito, ao formato original do capuz usado pelo santo: o capuz tornara-se símbolo de fidelidade às origens, de adesão à escolha de vida de Francisco, que se fez pobre com os pobres, os quais, para se proteger das intempéries, costumavam enfiar na cabeça um saco de pano dobrado que, assim, terminava em ponta, ao passo que o capuz redondo, inversamente, remetia à vontade de diminuir a radicalidade da experiência franciscana. O capuchinho Boveri, para demonstrar com a prova das imagens que, originalmente, o capuz era de ponta e não redondo, como pretendiam a todo o custo os conventuais, inclusive raspando as pinturas ou eliminando as miniaturas dos manuscritos, encarregou alguns artistas de copiar vários quadros, entre os quais aquele perdido de San Miniato. O episódio, como se observou, demonstra o valor atribuído às imagens, tal como se dava com as páginas manuscritas adulteradas para obter um falso documento de autenticidade; em muitos quadros conservados, apenas recentes restaurações recuperaram o capuz em ponta do santo, como é o caso do quadro da igreja de São Francisco em Pescia.” (MORELLO, Giovanni. A imagem do Pobrezinho de Assis. In: Catálogo da Exposição São Francisco na Arte de Mestres Italianos. Belo Horizonte: Casa Fiat de Cultura, 2018, p. 13).

[20] GIEBEN, Servus. Per la storia dell’abito francescano. In: Collectanea Franciscana. Periodicum cura Instituti Historici Ordinis Fratum Minunorum Capuccinorum Editum. Annus 66, 1996, Roma, pp. 431-478; MOUILLERON, Véronique Rouchon. Quelle couleur pour les frères? Regards sur l’habit des Mineurs aux XIIIᵉ-XIVᵉ siècles. Bulletin du centre d’études médiévales d’Auxerre | BUCEMA 18.1 (2014), pp. 2-29.

[21] MORELLO, Giovanni. A imagem do Pobrezinho de Assis. In: Catálogo da Exposição São Francisco na Arte de Mestres Italianos. Belo Horizonte: Casa Fiat de Cultura, 2018, p. 14.

[22] COOK, W.R. Images of st Francis of Assisi: in painting, stone and glass from the earliest images to ca. 1320 in Italy: a catalogue, Florença, 1999, p. 141. 

[23] Ibidem p. 209.

[24] Sobre a Basílica de São Francisco em Assis, conferir: MAGRO, Pascual. Basílica de San Francisco: em su fomación y em su significado histórico. Disponível em: <http://www.franciscanos.org/santuarios/magro.htm&gt;; URIBE, Fernando. Basílica y tumba de San Francisco. Disponível em: <http://www.franciscanos.org/santuarios/uribe2.htm&gt;; BELLUCCI, Gualiero. Basílica de San Francisco. Disponível em: <http://www.franciscanos.org/santuarios/bellucci2.htm&gt;. Acessos em 03 de junho de 2022; e PELEGRINELLI, André Luiz Marcondes. Francisco de Assis e a Visualidade: ver para crer, ver para ser. Uma História de Política e Devoção na Basílica de Assis (século XIII). 2018. 189p. Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-Graduação em História Social) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2018, pp. 123-176.

[25] Ibidem, pp. 144;152.

[26] Disponível em: Assisi – S.Francesco sup. 9 (cnr.it). Acesso em 03 de junho de 2022.

[27] MORELLO, Giovanni. A imagem do Pobrezinho de Assis. In: Catálogo da Exposição São Francisco na Arte de Mestres Italianos. Belo Horizonte: Casa Fiat de Cultura, 2018, p. 18.

[28] Sobre Giotto de Bondone, conferir: ARGAN,Giulio Carlo. História da Arte Italiana: de Giotto a Leonardo. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. Volume II, pp. 21-30.

[29] Para visualizar os 28 afrescos, conferir: <http://www.franciscanos.org/buenaventura/menu.html>. Acesso em 03 de junho de 2022.

[30] RUPNIK, Marko Ivan. Entrevista. https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2018-01/arte-na-liturgia–p–rupnick–convidativa–nao-invasiva-e-humild.html. Acesso em 03 de junho de 2022.

Sobre o autor

Adriano Cézar Oliveira

Licenciado em Filosofia, Bacharel e Especialista em Teologia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino. Especialista em História da Arte Sacra pela Faculdade Dom Luciano Mendes. Especialista em Ciências da Religião pela Faculdade Única. Pesquisador do grupo Arte Sacra Contemporânea: Religião e História, do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP – LABÔ.