Sempre que o comportamento político é abordado no contemporâneo, abre-se espaço para que se aponte e reflita sobre a importância das redes sociais, as câmaras de eco ou o envio de mensagens em série. Invariavelmente, o tema costuma passar pelo poder de influência do cidadão desavisado que, aparentemente de modo ingênuo, vai tomando contato com mensagens, posts, memes e, sem se dar conta, cria identificação com o político A, B ou C, passa a defendê-lo e vota nele.
A questão da influência tem sido levantada neste espaço, ainda que de modo indireto. Observamos a impossibilidade de se afirmar com certeza que haja influência decisiva nas redes sociais, a ponto de alterar um voto ou de provocar a tomada de decisão ou uma escolha. Não seria possível justificarmos a tese da influência, uma vez que muitos seriam os vetores que poderiam definir uma visão política. Enumeremos alguns: família, para o bem ou para o mal, é um destes influenciadores. A posição política pode aparecer na identificação positiva ou negativa em relação aos parentes, especialmente pais e mães. Isso pode se dar de modo inconsciente? Não necessariamente. Gostos, opiniões, juízos ou estilos podem ser elaborados contra ou a favor das visões percebidas como familiares. Desejos de demarcação de distâncias em relação à cultura familiar, do ponto de vista da busca pela distinção de conhecimento, a fronteira do estudo universitário ou da constituição da sociabilidade intelectual fashion são fatores que podem também ser levados em consideração. É possível ter uma identificação externa por se querer delinear uma distância com sua casa materna ou não. A escola segue sendo outro espaço que pode ser remetido à influência, principalmente nos anos do ensino médio. O tipo de escola em que se estudou, mais ideologizada ou não, pendendo para as humanidades ou para as exatas, enfim, afinidades são aí constituídas e podem fazer coro como suporte para as futuras visões a serem formadas sobre a política. Recordando aqui que as escolhas políticas não são um mundo à parte do conjunto de predileções ou aversões. Especialmente hoje, os juízos políticos se encontram emaranhados com tantos outros aspectos e motivos de aproximação ou distanciamento. As amizades também ocupam um lugar de destaque, uma vez que aquelas constituídas na adolescência ou logo depois dela, sobretudo quando duradoras, podem igualmente ocupar este espaço referencial nas escolhas dos matizes políticos – isto quando a política é um assunto. Lembrando que, nas conversas, podemos somente levar em consideração as nossas paixões por times de futebol, pessoas por quem nos interessamos, nosso trabalho, etc. Hoje, dependendo do círculo em que a pessoa transite, as causas identitárias de gênero ou raça, as opções pelo veganismo ou não, dentre outros temas, podem também ser constituídas a partir desses referenciais.
No passado, falávamos da influência da TV e os grandes conglomerados de mídia ganhavam destaque neste quesito, que era o de moldar a cabeça das pessoas, restando alguns poucos que conseguiram sair da caverna de Platão e não mais serem “enganados”. No contemporâneo, o foco recai sobre as redes sociais, posts e memes. A tendência geral já conhecida e estudada é a de que lemos e criamos identidade com aquilo que já pensávamos anteriormente. Alguns poucos entre nós leem os artigos, livros ou opiniões contraditórias ao que pensam. A maioria segue tomando contato somente com as ideias concordantes. Por tudo isso, é muito difícil cravarmos o conceito de influência e conseguirmos aferir tanto a sua presença quanto os seus resultados. De todo modo, o mito da influência segue sendo bastante sedutor e conta com grande aceitação nas conversas, informais ou não, sobre o tema da política.
Um segundo aspecto foi demarcado por Victor De Martino, em “Campanhas eleitorais durante o eclipse na política”, capítulo do livro Campanhas Políticas nas Redes Sociais: como fazer comunicação digital com eficiência, organizado por Juliana Fratini (São Paulo: Matrix, 2020). E ele diz respeito à identificação com os políticos que transpareçam autenticidade e espontaneidade.
Temos aqui a recepção aos discursos que sejam simples, diretos e de fácil compreensão, mesmo que não se orientem pela observância das regras gramaticais nem pelos códigos mais reconhecidos relativos aos costumes. Falas contundentes têm ganhado espaço e, mais do que o conteúdo, é a postura que tem provocado identificação. Adentramos então no estilo da pessoa em questão e ela agrega views na medida em que tem opinião, me representa, pois tem coragem pra falar o que fala não se preocupando com quem possa vir a desagradar. A mobilização tende a ocorrer mais entre aqueles que se sentem de alguma forma alijados das conversas, das discussões e que se percebem como que descartados da reflexão feita por pessoas mais estudadas e que frequentam espaços nos quais eles nunca serão convidados a estar. O engajamento pode se dar também de outras maneiras, e elas passam pelas tentativas de aderência aos trending topics. Esses cobrem um arco bastante amplo e que necessariamente não passa pela política, mas pelo potencial polêmico que apresentam. Aqui, abre-se a possibilidade de aproximação com temas que podem versar pelo circuito das celebridades, os reality shows, a manifestação remetida ao esporte ou uma fala equivocada que tenha sido encontrada.
No século XXI, o fazer político é o mesmo de sempre. Mas as formas de divulgação e de ocupação de espaço com vistas à obtenção de atenção se modificaram. Nessa direção, o modelo de ação das redes sociais tem pautado as atitudes políticas daqueles que ambicionam por mais engajamento.
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