Um artigo publicado no The Philadelphia Tribune, em 18 de novembro de 2019, pode indicar algumas perspectivas de comparação com o que ocorre em nosso país. Os chamados eleitores independentes, ou seja, que não se colocam a favor do partido Democrata ou do Republicano, são uma parcela respeitável dos eleitores, o que leva alguns analistas a acreditarem que eles podem fazer a diferença numa eleição.
Os Estados Unidos são um país bastante obcecado pelas pesquisas atinentes ao comportamento e, por conta disso, esse grupo de cidadãos é pesquisado desde a década de 70 do século passado. De acordo com a American National Election Studies – ANES –, os independentes representam 38% dos americanos, enquanto os Democratas somam 33% e os Republicanos 29%.
Segundo David B. Magleby e Candice J. Nelson, no artigo The mythical independent voter isn’t going to save us, presumia-se que essa categoria de eleitores seria “menos partidária, menos ideológica e mais propícios então à persuasão dos membros de outros partidos”. No entanto, de acordo com os resultados da mais recente pesquisa em 2016, não é o que de fato acontece. Os independentes não são tão neutros como até então se supunha.
Dentro do total dos eleitores que se dizem independentes, 2/3 possuem uma inclinação, seja para o partido Republicano, seja para o Democrata. O interessante aqui, talvez mais para o nosso caso em especial, é que esse dado relativo à inclinação não é revelado nas pesquisas, nas respostas que eles dão aos pesquisadores. Mas a coisa não para aí: o 1/3 restante dos independentes “não são engajados ou informados, não influenciam ninguém, não se podendo apontar que eles possam ser o fiel da balança na determinação de quem seria o vencedor de um pleito”.
No caso brasileiro, temos muito a pensar. Em primeiro lugar, quem seriam os eleitores independentes entre nós? Aqueles que manifestam o voto nulo ou branco? Aqueles que buscam, numa conversa sobre política, candidatos e eleições, se colocar como neutros, e que podem escolher um lado ou outro? Ou então o dito eleitor independente, entre nós, é aquele que deseja passar uma ideia de que está além do bem e do mal, que tem uma visão superior e vende a mensagem que tem mais sabedoria, que sabe o que está acontecendo, tem as melhores fontes e que por isso consegue se manter numa equidistância em relação aos antagonismos. Para este caso, de acordo com a sinalização dos resultados da pesquisa apontada, a maioria desses eleitores possuiria de fato uma tendência, uma inclinação não revelada. E aí seguimos para o último aspecto que nos sugere comentários.
O fato dos ditos independentes não revelarem sua inclinação partidária para os pesquisadores é para nós um importante indício de comportamento. E sua riqueza está mais exatamente na complexidade dos motivos que podem ser pensados e que seriam os disparadores dessa atitude. Seria então uma postura estratégica, a de não confiar nos pesquisadores? Poderia ser uma manifestação de uma superioridade, no sentido de manter a todo custo uma imagem de alguém que não se envolve como a maioria nas discussões mais mesquinhas entre uma posição política e outra? Difícil saber, por enquanto.
Uma pesquisa que tivesse esse traço como alvo poderia produzir dados que iluminassem essa situação. Haveria então alguma possibilidade de mapearmos esse tipo de comportamento que é reativo em relação às questões de uma pesquisa que visa mais exatamente conhecer as intenções dos eleitores?
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