A impressão que temos do Brasil, quando aportamos em terras estrangeiras do Primeiro Mundo, não sofre modificação alguma se comparada à primeira vez que realizamos esse contato. E isso seguramente não se altera em relação ao momento em que se realizou essa aproximação: qualquer ano do século passado, por exemplo.
Não há nada no exterior que lembre o Brasil. Como no passado, hoje não se conhece Lula e não se sabia quem era Bolsonaro, não se falava da ditadura ou de FHC. O mundo rico sequer se dá conta da existência do Brasil. Atualmente, sequer somos reconhecidos por nosso futebol. É inútil aguardar que tenhamos tanto destaque midiático como na morte de Pelé. E não temos mais ninguém que remotamente se aproxime desse lugar.
Quem, além de nós, se dedicaria a pensar sobre Brasil? É notório o fato de termos que apontar no mapa onde fica o nosso país – ou então esclarecer que falamos português e não espanhol. Da América Latina, muitos outros países são mais conhecidos que o nosso, e por várias razões. México, Argentina, Cuba ou Colômbia não necessitam de grandes esforços para serem lembrados.
E se fizéssemos um esforço de alteridade, nos colocando no lugar dos europeus, faríamos o mesmo. O Brasil, no máximo, ocuparia um lugar no etc., quando muito. Aqueles de nós que se identificam com causas nas redes sociais, ou que somente se interessam por eles próprios nas redes, têm uma profunda empatia com a elite europeia – e, por isso mesmo, emulam a defesa pelos desfavorecidos, pelas minorias ou pelos excluídos. No Brasil, somos capazes de postar indignação até com o que venha a ocorrer nos lugares mais pobres do mundo, contanto que eles tenham virado pauta na mídia internacional.
Nós, do Brasil, não almejamos um bom lugar nas trendings topics, uma vez que até nossas mazelas perdem espaço para aquelas de outros países minimamente mais conhecidos. Não dá para dizer que melhoramos ou pioramos em relação a essa inserção, em comparação com o passado. A impressão é de que permanecemos exatamente no mesmo lugar.
Penso que poderíamos, no mínimo, rever essa posição. Valorizamos muito a nossa política e damos atenção para os postos majoritários. Deveríamos cultivar o ceticismo para com a política. Duvidar igualmente de todos e evitar fazer isso somente para aquele candidato de que não gostamos por motivo subjetivo. A distância entre os políticos dos diferentes matizes não é grande em nosso país.
Esse é um fato que somente nos vem à cabeça quando tomamos contato com a riqueza nos países do Primeiro Mundo. De modo semelhante ao que acontece por aqui, eleições sucessivas são realizadas, mas a sensação continua a mesma. Eles continuam ricos e nós não. Como copiamos as modas sem critério, gastamos o nosso tempo, dedicando-nos a passar a ideia de que nos preocupamos com o mundo.
O problema pode não estar na classe política e, sim, em nós mesmos. Suspeita que não? Viaje para o exterior e comece a perceber a diferença já no aeroporto. Nada do que você observar ali ocorre no Brasil. Saia pela cidade e experimente a sensação de segurança. Acione o Estado e note a sua presença. Perceba as escolas públicas e o sistema de saúde.
E por que continuamos a acreditar que as causas de nossas mazelas são determinadas por alguns governos e outros não? No cômputo geral, há pouca diferença. Tome um século, se quiser, e acompanhe as mudanças. Você vai notar que navegamos de acordo com as alterações que ocorrem no Primeiro Mundo desde sempre. Você tem alguma história de protagonismo do Brasil no mundo? Se sim, procure saber se não é fake news com intenção política, como meio de capitalizar sucesso.
Se o nosso penúltimo presidente da República apoiava os Estados Unidos e o atual a China ou a Rússia, o que muda de fato? O Brasil não conta no mundo, não tem política externa que faça a diferença e não tem peso nas discussões mais críticas e que envolvam arranjos para a paz em uma guerra, para a resolução de alguma situação em áreas mais conturbadas do mundo. Diga-se que nem na América Latina contamos.
Montamos e fazemos um circo sobre as notícias que envolvem o Brasil e o mundo e as carroças de boi andam movimentando mídia e o principal objetivo – a política. Compare as mídias e constate o resultado. No Brasil, somos condenados a falar de nós mesmos e agimos como se isso fosse de fato importante. Fique dois meses fora do Brasil e, quando muito, você terá saudades do feijão, da farofa e da caipirinha. Nada disso muda o mundo. Temos que falar sobre o Brasil enquanto estamos presos nele, porque dependemos disso para a nossa sobrevivência.
Veja a LABÔ Lecture com Fernando Amed:
https://offlattes.com/archives/12447
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