Revista Laboratório Temática 3 – Antissemitismo, História e Memória do Holocausto

Redes sociais como palco de normalização de violência – antissemitismo, bolsonarismo e suas expressões

Resumo

Percebe-se que o atual momento histórico pelo qual o Brasil passa constitui um cenário fértil para os estudos sobre o antissemitismo. Além disso, o século XXI conta com uma particularidade sobre o assunto, algo que séculos anteriores não detinham: as redes sociais. Dessa forma, pretende-se dar início a um projeto que alinha as noções de Antissemitismo, Redes Sociais, Bolsonarismo e Violência Cultural, sendo este último conceito desenvolvido a partir dos Estudos para a Paz, mais especificamente pelo norueguês Johan Galtung.

Palavras chave: antissemitismo; redes sociais; bolsonarismo

Introdução

Nos últimos anos, o cenário político brasileiro mudou a ponto de o futuro da democracia ser questionado. No contexto atual, ideias que flertam com o fascismo estão virando cada vez mais a norma, e sendo disseminadas com frequência, principalmente de forma on-line. Essa construção faz parecer que a vida real se tornou-se uma releitura do filme “A Onda”, cuja versão mais recente – e talvez mais conhecida – foi lançada no ano de 2008, dirigida por Dennis Gansel [1].

Pode-se dizer que a articulação da Extrema Direita no Brasil vem se desenvolvendo desde os anos 2000. Contudo, a sua consolidação é um fenômeno de quase dez anos atrás, quando o país foi cenário do que ficou conhecido como “Jornadas de 2013”. Desde a crise de 2008, manifestantes ao redor do mundo (dos Estados Unidos até o Egito) foram às ruas externar suas insatisfações, e, justamente por conta desse cenário, a nova Direita viu uma oportunidade de angariar espaço (PINHEIRO-MACHADO, 2019).

As redes sociais tiveram um papel de destaque nesse contexto. Castells, por exemplo, em seu livro Redes de Indignação e Esperança: Movimentos Sociais na Era da Internet, mostra como as Redes Sociais foram protagonistas na organização desses levantes. Por outro lado, a Direita soube apropriar-se delas, utilizando-se das insatisfações dos manifestantes em seu discurso. Essas plataformas tiveram um impacto de aproximar um certo público ao espectro da Direta, que, apesar de ter sido beneficiado pelas políticas públicas desenvolvidas pelos governos do PT, após os escândalos de corrupção, viu a ala progressista se associar ao establishment, tornando-se “órfãos da governabilidade”. Além disso, ao tentar se desassociar dos manifestantes, o antigo governo os classificou como “coxinhas; a nova classe C, ingrata” (PINHEIRO-MACHADO, 2019, p. 30).

Em virtude da convergência da rápida disseminação de conteúdo e do atual contexto de crise, como bem pontua Ferreira (2020, p. 8) ao retratar os discursos extremistas da Direita portuguesa diante da “crise dos refugiados” na Europa, as redes sociais passaram a ser “amplificadores da percepção de medo e insegurança da sociedade civil”, utilizando-se de narrativas atreladas a noções “de uma invasão e de uma ‘ameaça’ – à nossa segurança física e aos nossos valores”.

Ao se tratar da violência contra um determinado grupo, a partir das redes sociais, por exemplo, pode-se trazer o conceito desenvolvido por Johan Galtung (2003), chamado “Violência Cultural”. O termo se refere a qualquer tipo de agressão que seja utilizada para legitimar uma violência direta, por exemplo. A violência cultural ataca a vítima de modo mais subjetivo, não gerando ataques visíveis, mas podendo incitá-los. Dentro do antissemitismo, é possível citar, por exemplo, a postagem realizada por Roberto Jefferson no seu Instagram, no ano de 2021, com o seguinte texto: “Baal, deidade satânica Cananista e Judeus sacrificavam crianças para receber sua simpatia. Hoje essa história se repete”.

A figura do ex-predidente Jair Messias Bolsonaro pode ser vista como uma personificação de quem poderia lutar pelas insatisfações de uma população desacreditada na política. Dentre suas principais pautas e discursos, podemos citar: valorização da “família tradicional” (heteronormativa), combate ao comunismo, apoio ao então presidente Donald Trump, apoio ao Estado de Israel, normalização de discursos racistas, etc. Ao examinarmos cenas como o que aconteceu no Clube Hebraica do Rio de Janeiro em 2017, supostos elogios ao Estado de Israel e exaltação de valores “judaico-cristãos”, em contraposição aos comentários feitos sobre outros grupos, como seria possível afirmar a construção de uma ideia antissemita no Brasil por parte do antigo governo?

Se torna necessário, cada vez mais, revisitar e tencionar questões relacionadas à construção da identidade judaica no Brasil e suas particularidades – em comparação a outros lugares do mundo –, nas diversas camadas sociais e políticas. Para fins práticos, pretende-se, neste trabalho, focalizar pelo menos alguns desses aspectos, dentro do espectro da nova Direita brasileira. Para isso, traz-se aqui a ideia de “judeu imaginário”, desenvolvida por Gherman e Klein (2019, p. 105). Os autores apontam que esse arquétipo, dentro do imaginário da Direita, é influenciado por uma percepção cristã, segundo a qual a concepção da identidade judaica está atrelada a um conjunto de valores que, segundo os autores, “rime com o cristianismo conservador, que contenha fortes referências messiânicas e que tenha suas definições livres de propostas de esquerda ou liberais”. Dessa forma, aqueles cujos comportamentos se opõem a esse ideal (judeus de esquerda, judeus seculares, ou judeus críticos ao governo de Israel) são vistos como “não judeus”. Vale lembrar que, essa concepção de um “judeu imaginário”, não é algo exclusivo da Direita. Contudo, optou-se por focalizar nesse espectro político, por conta do seu discurso que, a princípio, se diz filossemita.

Partindo dessa construção, é possível notar essas reproduções em postagens realizadas em redes sociais. Ressalta-se aqui que, sempre que uma postagem for feita de forma anônima, o nome ou usuário será substituído por algo que não o identifique. Por outro lado, em caso de pessoa pública, a sua identidade será revelada. As postagens serão copiadas e coladas da mesma forma que foram escritas por seus autores.

Desenvolvimento

A ida de Bolsonaro à Hebraica

O ano de 2017 foi, muito provavelmente, um marco com relação ao debate sobre o antissemitismo no Brasil. 3 de abril daquele ano foi o dia da visita do então Deputado Federal Jair Messias Bolsonaro ao clube Hebraica do Rio de Janeiro. Foi a mesma palestra em que o convidado – Bolsonaro – proferiu frases como: “Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola” e “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas”. Não por menos, essa palestra viralizou nas redes sociais, recebendo, com razão, diversas críticas. Contudo, não foram apenas as falas do então pré-candidato à presidência que reverberou nos meios comunicacionais. O fato do público, composto principalmente por judeus, ter rido das falas proferidas, não passou batido.

E essa lembrança não morreu naquele ano. Em 26 de Julho de 2021, Bolsonaro, já presidente da República, se encontra com membros do partido de Extrema Direita Alemã. Nos comentários do post na página do Twitter da Carta Capital, foi possível ver declarações como: “Esses judeus aí não são os mesmos que andavam abraçados com o bolsonazi? Só falta me dizer que não sabiam… há há há ahha há – Ain, mas ele se batizou no rio Jordão.. há há há Bando de judeu otário…” (sic)

O episódio de Bolsonaro na Hebraica do Rio de Janeiro gerou questões: pouco se lembra dos judeus que estavam do lado de fora protestando contra sua visita, ou que, por volta de um mês antes, a presença de Bolsonaro foi vetada no clube de mesmo nome, na unidade de São Paulo. Acredita-se que, por ter um discurso pró-Israel, ou alardear valores “Judaicos Cristãos”, Bolsonaro não seja antissemita, ou que as “críticas” feitas aos judeus do lado de dentro – mesmo que com razão – não teriam um tom antissemita.

A partir desse caso, evidenciou-se a necessidade de estabelecer uma construção a respeito da identidade judaica no Brasil, tanto dentro da Direita, quanto da Esquerda. Apesar de um fio condutor em comum, pretende-se ver com um pouco mais de profundidade como essa construção se dá dentro da nova direita brasileira.

A Violência na perspectiva dos Estudos Para a Paz e a sua normalização no Brasil de Bolsonaro

A partir do início do governo Bolsonaro, houve um crescimento considerável de células nazistas e no consumo de material produzido por esses grupos. Desde 2019, o acréscimo de cédulas foi de 270%, e, somente no ano de 2021, 900 mil downloads de conteúdo neonazistas foram realizados em sites extremistas. Isso representa quase o dobro de downloads feitos entre 2002 e 2018[2]. Dois homens já foram avistados utilizando braçadeiras com suásticas nazistas em locais públicos[3] [4]. Cada vez mais, aumenta a frequência de cenas que extrapolam as fronteiras democráticas e normalizam narrativas de cunho violento. Em um contexto de polarização, se torna desafiador a tentativa organizacional de opor-se a esse tipo de manifestação.

Dentro dos Estudos para a Paz, muito além de definir uma concepção de paz e colocá-la em prática, se faz necessário compreender o que é violência e seus níveis. Johan Galtung, fundador do Peace Research Institute of Oslo, estabeleceu não apenas um entendimento com relação às definições de paz, mas também estipulou três tipos de violência (categorizadas como: direta, estrutural e cultural) (FERREIRA, 2019).

Justamente por conta desse desenvolvimento teórico trazido por Galtung, é possível ter uma percepção de como a violência é estabelecida a partir da relação entre agressor e vítima. Ao se tratar da violência direta, agressor e vítima são facilmente identificados, de modo que o agressor tem como finalidade impedir que sua vítima alcance algo e lhe causar danos e destruição (GALTUNG, 1969, APUD FERREIRA, 2019). Em Jaguariúna, por exemplo, um homem de 57 anos foi agredido por três homens por ser judeu[5]. Por violência estrutural, a vítima é percebida diferentemente do seu agressor. Nesse tipo de violência, a vítima é impactada pela falta de “justiça social”, impossibilitando-a de ter uma qualidade de vida digna (GALTUNG, 1969, APUD FERREIRA, 2019, p. 67). Podemos exemplificar com a tentativa de dificultar a entrada de refugiados judeus durante a Era Vargas. Por fim, a violência cultural é frequentemente usada para legitimar tanto a violência direta quanto a estrutural. Violência que está presente, segundo Galtung (2003, p. 7), em discursos, manifestações artísticas, símbolos, etc. Podemos pensar o antissemitismo, dentro da violência cultural, associada a uma ideia de uma conspiração e estereótipos judaicos (controle das mídias, judeu rico, a homogeneização do grupo, etc.) e banalização ou negação do Holocausto (comparar a crise sanitária contra a COVID-19 com câmaras de gás, relativizar a existência de campos ou falar que é uma criação judaica para que eles possam se vitimizar).Pretende-se, com isso focalizar o estudo baseado no conceito de violência cultural tendo por base manifestações antissemitas em redes sociais.

Muito antes de sua eleição, já existia um discurso violento que guiava Bolsonaro. No final dos anos 90, por exemplo, Bolsonaro sugeriu fuzilar o então presidente Fernando Henrique Cardoso, durante a proposta de privatização de estatais[6]. Também foi frequente o enaltecimento do período ditatorial no Brasil (1964-1985), chegando a elogiar o ex-chefe do DOI CODI, Brilhante Ustra, durante o processo de Impeachment da então Presidente Dilma Rousseff. Ao assumir a presidência em 2018, esse discurso não deveria causar tanta surpresa.

Durante os quatro anos de governo, foram inúmeros exemplos de desacato realizados por Bolsonaro: desde a falta de liderança contra a situação da crise sanitária durante a pandemia de COVID-19, até referências nazistas dentro da sua gestão (discurso de Ricardo Alvim, “Brasil acima de tudo”, a propaganda da SECOM com a frase “o trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil”, etc.).

Sendo o discurso violento de Bolsonaro algo de conhecimento público, como foi possível a sua chegada à cadeira de chefe de Estado? Nos últimos anos, especialmente no Brasil, o eixo progressista passa por um momento de crise. Como dito anteriormente, essa crise foi causada por conta de sua associação com o establishment e de casos de corrupção.

Dessa forma, Bolsonaro construiu sua imagem em contraposição ao cenário criado em nosso país. Foi sendo formada uma noção de “Nós” em oposição ao “Outro”. A figura do “Outro” tem uma concepção que, segundo Galtung, está ligada à “Desumanização” de um grupo ao qual o “Nós” se opõe (1989, p. 4). Isso foi de extrema importância para que o discurso de Bolsonaro se tornasse algo admissível para um grande público, e que as diversas falas problemáticas em seu discurso fossem desconsideradas.

Uma das principais marcas de Bolsonaro durante sua campanha, e boa parte do seu governo, foi o uso das bandeiras de Israel e sua aproximação com o então Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu. No atual contexto da nova direita brasileira, se faz necessário compreender essa aproximação e a simbologia dessa pauta. Em um contexto em que, tradicionalmente, o setor progressista brasileiro se manifesta a favor de um Estado palestino, não significa, necessariamente, que o antigo governo tivesse uma concepção equivalente ao se declarar pró-Israel. Em outras palavras, é necessário compreender a construção do imaginário do judeu e de Israel, e a influência do discurso neopentecostal a respeito dessa pauta.

O judeu-imaginário e sua construção nas Redes Sociais

Os estudos sobre o antissemitismo no Brasil têm se desenvolvido nos últimos 50 anos, e, segundo Maria Luiza Tucci Carneiro (2012), foi uma construção esporádica durante os anos 70, que ganhou força em 1995, graças à abertura de diversos arquivos, dentre eles, o Arquivo Histórico do Itamaraty. Como pontuam Grin e Gherman (2017), percebe-se também “uma virada em seus pressupostos epistemológicos, especialmente após os anos 2000, nos campos ligados à História, Ciências Sociais, Língua e Literatura”.

Acreditar que o antissemitismo é uma construção exclusiva da Segunda Guerra Mundial, e que este fato não poderia ser repetido, especialmente aqui no Brasil, é algo extremamente equivocado. Se torna cada vez mais frequente a manifestação de ódio contra judeus e outros grupos minoritários, especialmente por conta do uso das redes sociais ou fóruns usados por membros de grupos extremistas. Após Bolsonaro assumir a cadeira de chefe de Estado, esses discursos foram sendo cada vez mais normalizados.

Arendt (1967,1998), rememorando Sartre, traz a ideia de que a definição da identidade judaica depende dos outros, tirando a chance do próprio grupo poder se autodeterminar. É um conceito extremamente importante para se compreender a construção identitária do judeu hoje, especialmente pelo setor da nova direita brasileira. Há muitos significados por trás do alinhamento havido entre o governo de Bolsonaro, comunidade judaica e estado de Israel, principalmente quando pensamos no papel da bancada evangélica.

Repetidamente se vê uma apropriação de simbologias judaicas e leituras a partir de uma perspectiva cristã sobre o judaísmo dentro desses centros: o Templo de Salomão, no centro de São Paulo, o uso de trajes típicos judaicos por Edir Macedo, discurso messiânico, uso das bandeiras de Israel nos nomes de usuários das redes sociais ou em manifestações de direita, etc. Essa apropriação do que seria uma identidade judaica, para dentro dos setores evangélicos, reforça a ideia trazida anteriormente por Arendt, a respeito de quem teria mais autonomia para definir a identidade do outro.

Com isso, tanto a comunidade judaica quanto o Estado de Israel perderam seu caráter plural e passaram a ser homogeneizados por setores da sociedade civil (do espectro da direita e da esquerda). Como citado anteriormente segundo Gherman e Klein (2019), a construção do judeu dentro da perspectiva da direita foi feita para se associar aos valores cristãos.

Nas redes sociais, entre os dias 22 e 23 de junho de 2022, por exemplo, um usuário do Twitter, que tem em sua biografia “Fiel à Santíssima Trindade, à Terra de Santa Cruz e à Família Imperial”, realizou as seguintes postagens em seu perfil: 1) “São Pio de Pietrelcina sabia ser duro nas palavras” – seguido de uma imagem de um clérigo segurando um crucifixo, com a frase a que o usuário fez alusão “Os Judeus são inimigos de Deus e de nossa santa religião”; 2) “Antes de vocês começarem com a picuinha: o santo falou sobre os ‘praticantes do judaísmo’, e não sobre as ‘pessoas do povo judeu’. É possível uma pessoa do povo judeu ser católica e santa, como a Santíssima Virgem Maria. Mas os judeus que não aceitaram o Messias são inimigos de Deus”; 3) “Lembrete: todas as pessoas que estão em pecado mortal estão na inimizade com Deus”. [sic]

Uma página fake, no dia 15 de maio de 2020, postou uma imagem com recortes de quatro figuras, duas das quais traziam a estrela de Davi utilizada durante a Segunda Guerra Mundial, e outras duas máscaras faciais utilizadas para a proteção contra o coronavírus. Essa imagem contém os dizeres “Tudo começa com um símbolo”.

Em 28 de maio de 2020, Abraham Weintraub (ex-ministro da educação da gestão Bolsonaro entre os anos 2019-2020) utilizou em seu Twitter uma imagem de vítimas da Segunda Guerra Mundial com a seguinte legenda: “primeiro, nos trancaram em casa. Depois, brasileiros honestos buscando trabalho foram algemados. Ontem, 29 famílias tiveram seus lares violados! Sob a mira de armas, pais viram suas crianças e mulheres assustadas terem seus computadores apreendidos! Qual o próximo passo?”. Um dia antes, ainda em seu Twitter, Weintraub escreveu: “Hoje foi o dia da Infâmia, VERGONHA NACIONAL, e será lembrado como a Noite dos Cristais brasileira. Profanaram nossos lares e estão nos sufocando. Sabem o que a grande imprensa oligarca/socialista dirá? SIEG HEIL!”

Evidentemente, as postagens comentadas anteriormente continham críticas. Alguns grupos judaicos, inclusive, produziam periodicamente materiais educativos para o alerta de antissemitismo. Este ensaio não tem como finalidade propor soluções para que esses ataques sejam evitados, mas sim demonstrar que isso é uma realidade. Contudo, é necessário que projetos relacionados ao assunto sejam debatidos.

Conclusão

O antissemitismo ainda é algo que se faz presente, especialmente no Brasil. Assim como qualquer outra forma de racismo, a narrativa contra sua vítima frequentemente é repaginada conforme as necessidades do contexto histórico. Além disso, atualmente, as redes sociais fazem com que os discursos preconceituosos se disseminem mais rapidamente.

As falas antissemitas, mesmo que se tenha mantido a ideia conspiratória na construção de um judeu imaginado, estão cada vez mais sutis aos ouvidos, não sendo percebidas como tal. A identidade judaica também vem sendo apropriada por setores evangélicos, estabelecendo falsas visões de quem seriam os “verdadeiros judeus”.

No momento em que a violência cultural, expressada por meio das redes sociais, passa a ser uma violência direta, com judeus sendo agredidos à luz do dia, é com urgência que devemos pensar uma rede de denúncia contra esses ataques, de modo que não seja apenas a comunidade judaica responsável por isso. Especialmente se desejamos que a história não se repita.    

Referências

ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo – Anti-semitismo, imperialismo e totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Rompendo o Silêncio: a historiografia sobre o antissemitismo no Brasil. v. 13, n. v. 13 n. 18 (2012): Temática Livre, pp. 79–97, 2012.

FERREIRA, Catarina Alexandra Gomes. Discursos de Ódio nas Redes Sociais: Da desumanização à radicalização. Universidade Católica Portuguesa, 2020. Disponível em: http://hdl.handle.net/10400.14/33618

FERREIRA, Marcos Alan S. V.; MASCHIETTO, Roberta Holanda; KUHLMANN, Paulo Roberto Loyolla (Orgs.). Estudos para a Paz: conceitos e debates. Sergipe: Editora UFS, 2019.

GALTUNG, Johan. Violência Cultural. n. Gernika Gogoratuz, p. 36, 2003.

GHERMAN, Michel; KLEIN, Misha. Brazilian Right influence on the Jewish community of Rio de Janeiro. p. 23, 2019.

GRIN, Monica; GHERMAN, Michel. Breve balanço sobre os estudos judaicos no Brasil. Cadernos Judaicos, n. 34, pp. 33–58, 2017.

PINHEIRO-MACHADO, Rosana. Amanhã vai ser maior: O que aconteceu com o Brasil e possíveis rotas de fuga para a crise atual. [s.l.]: Planeta, 2019. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=3Y-4DwAAQBAJ

[1] Lesson Plan. [s.l.: s.n.], 2010. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5__2h_SxlwY Acesso em: 9 ago. 2022.

[2] PICHONELLI, Matheus. Em 2021, 900 mil pessoas acessaram material neonazista no Brasil, diz antropóloga. 2022. Disponível em: https://tinyurl.com/bdddar67 Acesso em: 16 ago. 2022.

[3] GONÇALVES, Eduardo. Quem é o homem que usou a suástica nazista em bar de Minas. 2019. Disponível em: https://tinyurl.com/yz85emuz Acesso em: 16 ago. 2022.

[4] G1 CARUARU. Jovem expulso de shopping em Caruaru por usar suástica no braço é apreendido pela Polícia Civil e será encaminhado ao MPPE. Vídeo mostra o rapaz com símbolo do nazismo em cima de uma blusa de manga longa. Uso de símbolos nazistas é crime no Brasil e tem pena de reclusão de um a três anos e multa. 2021. Disponível em: https://tinyurl.com/y7pzzxv7 Acesso em: 9 jul. 2021.

[5] ESTADÃO. Homem de 57 anos é agredido a socos e chutes por ser judeu. Crime ocorreu em Jaguariúna; na hora do crime, vítima vestia um quipá, chapéu usado pela comunidade judaica. 2020. Disponível em: https://tinyurl.com/36p3afj4 Acesso em: 13 jun. 2022.

[6] OLIVEIRA, Clarissa. A frase em que Bolsonaro sugeriu fuzilar FHC por privatizar estatais. 2021. Disponível em: https://tinyurl.com/4vfpesmt Acesso em: 16 ago. 2022.

Sobre o autor

Hannytta Medici

Hannytta Medici é tecnóloga em Fotografia e bacharel em Cinema e Audiovisual pela UNIMEP. É pós graduanda em Gestão Cultural: Cultura, desenvolvimento e Mercado pelo Senac, mestranda em comunicação na UNESP e pesquisadora do grupo Judaísmo Contemporâneo: Filosofia e Literatura Judaicas, do LABÔ.