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Na dúvida, fique do lado de Israel

O antissemitismo não alçou a condição de preconceito e por isso quem fala bem de Israel, toma o maior pau nas redes sociais. Tampouco é legitimo se valer das causas identitárias para falar sobre ser judeu. Até os defensores mais castos do politicamente correto ficam em silêncio quando as agressões vão em direção àquele povo. Você, que se sente de alguma forma tolhido pelos exageros na contenção de expressões que acionam gatilhos, pode escolher esse tema para extravasar: atacar os judeus é algo que se faz sem grandes preocupações, o que revela a ausência de estudo, de leitura, de um mínimo de aprofundamento e que no fim se configura como falta de caráter.

Vejo pessoas que nem sequer fazem grandes malabarismos intelectuais para se pronunciarem sobre o que ocorre no Oriente Médio, especialmente quando Israel protagoniza alguma situação. O antissemitismo vai então se naturalizando de tal forma que não se nota a sua existência, ou, então, esse mecanismo de denegação faz parte do processo. Temos assim muitos objetos de estudo para o comportamento político – até mesmo porque o que acontece ou deixa de acontecer em Israel alcança as ideologias e provoca embates nas redes sociais.

É um fato que, no ambiente polarizado em que vivemos, as pessoas que aspiram por ser aceitas por amplos grupos sociais, se esforçam para parecer ponderadas, evitando assim ferir aqueles que de alguma maneira lhes dão suportes políticos. Essa é a percepção que se tem quando se avalia o jogo político nos países democráticos. Mas não se pode dizer o mesmo em relação a quem promove a polarização e que radicaliza nas redes.

Na tipologia dos comportamentos em relação ao Oriente Médio, nos deparamos com alguns padrões. Temos a pessoa que finge saber algo sobre a história dos conflitos que ocorreram nessa região. E, se você tenta provocar uma reflexão, logo se perde a elegância, uma vez que se repete o que Carl Sagan nos deixou quando falava da história do dragão na garagem. Era impossível se provar que ele estava ali, mesmo se servindo de vários meios: o interlocutor que acreditava em sua existência continuava a crer nisso, mesmo que nenhum indício desse suporte a sua crença. Tal qual essa situação, é inútil procurar colocar em dúvida aquele que tem certeza quanto ao lado certo para se defender na região. Considere o quanto essa pessoa domina esse tema. Pense nos estudos que fez, nos artigos que leu ou nos filmes que assistiu. Avalie, enfim, quanta dedicação houve para se conhecer e dominar esse assunto.

Outro caso é aquele em que a pessoa se vale do argumento da vítima. O desejo de se manter contra Israel faz com que se jogue com o que tem na mão. Aqui, a simulação de pensamento se dá quando se entende que há justiça nos atos terroristas contra Israel, visto aqui como similares ao que o oponente faz. Entendo que a referência, por paradoxal que pareça, seja a história de David e Golias, e por isso se defende o lado que parece mais fraco.

Há também o tipo que se vale do argumento de autoridade. Essa pessoa leu algo melhor do que você. Em geral, o que você leu é tratado como parcial, sendo que a recíproca não é verdadeira, ainda que a pessoa tenha usado como fonte um livro de Edward Said. Não, ela não tomará contato com o livro a seguir e terá orgulho de sua decisão: Michell G. Bard, Mitos e fatos: a verdade sobre o conflito árabe-israelense, São Paulo: editora Sefer, 2004.

Em relação ao tema, o melhor é conversar com judeus esclarecidos ou pessoas que guardem afinidade para com o Estado de Israel. Para mim, por exemplo, a fundação de Israel, em 1948, foi o maior e único feito da ONU, por trazer a legitimidade internacional para esse fato – embora seja justo pensar que Israel provavelmente seria fundada sem o amparo da ONU, que, a rigor, não serve para nada, uma vez que a sua existência é a única justificativa de sua existência. Tivesse ou não o suporte da ONU e nada mudaria. Israel seria alvo de ataques de qualquer modo.

Não, Israel não invadiu as terras palestinas, dado que muitos judeus já viviam na região. Não se deve esquecer que ali se encontra o berço de três religiões, o que fez com que povos de diferentes crenças compartilhassem o mesmo território. O que se chama de sionismo – em geral de um modo pejorativo – foi um movimento semelhante às lutas pelas unificações da Itália ou Alemanha no século XIX. Era natural então que o povo judaico desejasse viver nas proximidades de Jerusalém. Compare com o que desejavam Otto von Bismarck ou Guiseppe Garibaldi e veja se o que eles promoveram recebeu alguma retaliação posterior.

Sim, partidários do Hamas ou Hezbollah desejam a destruição de Israel e não a paz. Se assim fosse, os esforços notados seriam aqueles voltados para o diálogo. Quem unicamente propõe a paz e o diálogo na região é Israel. Israel não é uma nação beligerante. Esse Estado investe na defesa, sendo essa, naturalmente, uma obsessão. Quem teria sossego se pertencesse às famílias que foram exterminadas há bem pouco tempo na escala industrial de morte promovida pelo nazismo?

Na dúvida, fique sempre ao lado de Israel, ou então não se pronuncie e esconda a sua ignorância sobre a história do modo mais sutil que lhe seja possível.

Veja a LABÔ Lecture com Fernando Amed:
https://offlattes.com/archives/12447

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Sobre o autor

Fernando Amed

Doutor em História Social pela USP. Historiador pela FFLCH da USP, professor da Faculdade de Comunicação da Faap e do curso de Artes Visuais da Belas Artes de São Paulo, autor de livros e artigos acadêmicos. Coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Comportamento Político do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP – LABÔ.