Editorial

Mercado e Religião

Tema: Pós-Graduação (Lato Sensu) MERCADO E RELIGIÃO

Questões colocadas: As religiões são eternas?
As “novas” espiritualidades continuam “novas”?
Por que as redes sociais têm forte influência nas nossas espiritualidades?
Todas as religiões fazem marketing?

Pontos principais e reflexões

O professor Pondé dedicou-se em explorar os questionamentos acima começando a relatar sobre aquilo que o motivou a criar a Pós-Graduação sobre Mercado e Religião.

Durante os últimos anos o professor tem percebido uma persistente resistência aliada a um exacerbado ressentimento por parte de líderes religiosos no que diz respeito ao abandono de “certas hermenêuticas” que já deveriam ter sido abolidas.

Por sua vez, mencionou que tem observado um crescente aumento do caráter competitivo nos ambientes “inter” e “intra” religiões principalmente com o advento das redes sociais. O acirramento da competividade religiosa, disse ele, está pautado por um Marketing que tem se tornado a ontologia social no mercado religioso.

Portanto, a Pós-Graduação Mercado e Religião objetiva entre outros aspectos em se debruçar nas análises das transformações que têm ocorrido no cenário religioso. Tais análises terão como norte a própria missão do LABÔ que tem como foco Política, Comportamento e Mídia.

Ainda visando endereçar os questionamentos acima, à medida que justificava a necessidade da Pós Mercado Religião, o professor declarou que “as civilizações já viveram sem a ciência por certos períodos de tempo, mas nem um só dia sem a religião”, enfatizando que “enquanto existir humanidade haverá o fenômeno religioso”.  

No ambiente das análises das transformações que têm ocorrido no cenário religioso, o professor expressou que em suas observações tem identificado um esvaziamento de sentido no seio de tradições religiosas milenares que passam a incorporar práticas específicas de outros grupos religiosos mais contemporâneos no intuito de angariar mais adeptos/fiéis tanto na esfera “inter” quanto na esfera “intra” religiões – como é o caso, segundo ele, do uso de testemunhos pessoais de prosperidade financeira, de progressos profissionais, de melhor qualidade de vida, etc, que são próprios de determinados segmentos religiosos da atualidade.

O professor mencionou de forma pertinente, dentro da atmosfera de destradicionalização das religiões, a obra contemporânea “A Era Secular” (2007) do filósofo canadense Charles Taylor que situa o “flerte” com os fenômenos do secularismo e multiculturalismo. Como simples e sutil exemplo, o professor citou o vocabulário cientificista que tem sido absorvido pelo mundo religioso, onde termos muito atuais como “energias”, “conspiração do universo” e demais expressões do gênero têm feito parte do vernáculo religioso.

Ao longo de sua fala, o professor fez uma breve análise com relação as “novas espiritualidades” que surgem a cada dia ao ser interpelado por questionamentos de participantes da reunião virtual. Para tipificar de que maneira a Pós-Graduação Mercado e Religião se processará enquanto análises de transformações, o professor comentou que a “espiritualidade coaching” (que teve sua origem no mundo corporativo) produz uma avalanche de pseudo-conceitos caracterizando-se como uma “espiritualidade de consumo”, valendo-se de elementos de uma “psicologia barata” como parte do seu repertório de “produtos”.

Mais para o final da abordagem, no sentido de esclarecer para aqueles(as) interessados(as) na Pós-Graduação Mercado e Religião, o professor destacou que a Pós se destina a pessoas maduras que não ficarão ressentidas com as análises críticas que serão realizadas. A proposta da Pós Mercado e Religião é analisar transformações como um todo, tratando obviamente de questões específicas, mas sem privilegiar ou macular esta ou aquela religião. O professor fez questão em destacar que crenças serão observadas com viés cognitivo e não religioso evitando assim situações tendenciosas e passionais.

Concordando e corroborando com as colocações do professor Pondé, entendo que a Pós Mercado e Religião tem muito a contribuir não só para a formação acadêmica de seus participantes, mas também terá o papel de gerar contribuições significativas através de uma interatividade cada vez maior com uma sociedade que se percebe extremamente “desbossulada” (neologismo) quando o assunto é religião, espiritualidade, etc.

Imagem: Fernando Amed (2024)

Sobre o autor

Edvaldo Shamá

Graduado em Teologia nas tradições católica e protestante, especialista em Relações Internacionais/Diplomacia, em particular na área da Diplomacia Pública (Educação Superior, Cultura, Comunicação e Política) tendo atuado nas embaixadas do Reino Unido e Estados Unidos por quase 3 décadas e pesquisador do Núcleo de Estudos Agostinianos do laboratório de política, comportamento e mídia da Fundação São Paulo, PUC-SP.