
Matérias internacionais recentes, e que, por motivos diferentes, repercutem a participação brasileira nas redes sociais. O Pew Research Center publicou o resultado de uma pesquisa em seu site no dia 22 de março de 2024: WhatsApp e Facebook dominam a paisagem das mídias sociais nas nações de renda média (em: https://www.publicnow.com/view/C04C8BD744ABBD1705E91C9D739DD8ADAD4DD785). E a revista The Economist em 14 de abril de 2024, deu espaço para divulgação do atrito havido entre Elon Musk e Alexandre de Moraes nas últimas semanas: Elon Musk está rivalizando com a poderoso Supremo Tribunal do Brasil (em: https://www.economist.com/the-americas/2024/04/14/elon-musk-is-feuding-with-brazils-powerful-supreme-court). Os números nos motivam a pensar e estimulam a elaboração de hipóteses, uma vez que o cenário dá destaque para o nosso posicionamento no contexto digital globalizado.
Os dados configurados pelo Pew Research Center dispõem o Brasil como líder na participação nas redes sociais entre as nações de renda média. O Brasil ocupa o primeiro lugar na utilização do WhatsApp, Facebook, TikTok, Instagram e Telegram, ficando em segundo lugar no uso do Twitter (X). Os números também impressionam quando comparados com a média de uso pelos países considerados bem como pelo acesso a esses aplicativos nos Estados Unidos. Já o gráfico apresentado pela The Economist mostra o tempo diário gasto em um dia e por pessoa na utilização das redes sociais. Em 2023, o Brasil ocupa a o topo do ranking, como uma média de uso que beira as 3 horas e 40 minutos por dia, sendo que a média global não atinge as 2 horas e meia.
Ambos os meios de divulgação diferem. O Pew Research sendo uma entidade cujo objetivo é a produção de dados a partir de pesquisas de opinião pública (surveys) que permitam a visualização de comportamentos contemporâneos nas mais diversas áreas e a Economist, como uma revista jornalística que oferece uma articulação entre dados obtidos e a interpretação que deles se faz.
Cerca de 20 dias separam uma publicação da outra, o que pode ser somente um acaso. Adeptos das teorias da conspiração podem intuir uma lógica interna à divulgação desses dados, especialmente se forem brasileiros e paranoicos com o poder das Big Techs e de seus interesses em relação ao Brasil. Há espaço também para os que creem num movimento coordenado que aspira pelo controle da política que se faz em nosso país.
A matéria da Economist, cuja chamada se encontra na capa da edição impressa, comprova a tese de que o Brasil ganha a atenção mundial quando apadrinhado por algum blockbuster das redes sociais. No entanto, interessa-nos observar testemunhos externos que olham para a política nacional e se surpreendem com as idiossincrasias do nosso cotidiano, aquelas que nos esforçamos para não notar ou que o fazemos por necessidade não declarada de sobrevivência. Assim, acompanhamos no artigo, a seguinte caracterização:
“Uma constituição prolixa combinada com a capacitação de uma vasta gama de atores para apresentar petições significa que ‘quase tudo pode chegar ao tribunal’, afirma Luís Roberto Barroso, o presidente do tribunal. A Suprema Corte dos EUA recebe cerca de 7 mil petições por ano e analisa de 100 a 150 que considera de relevância nacional. O Brasil ouviu mais de 78 mil novos casos em 2023 e proferiu mais de 15 mil julgamentos. Para lidar com esta carga de trabalho, o tribunal brasileiro permite que juízes individuais decidam sobre os casos. Exigir que toda a bancada julgue levaria meses ou até anos. Em uma média anual, apenas cerca de 10% das decisões do tribunal são tomadas pelo tribunal pleno, diz Diego Werneck, do Insper, uma universidade em São Paulo. O resto é unilateral. Isto levou a acusações de que juízes não foram eleitos através do voto popular têm demasiado poder. ‘Decidimos casos que noutras partes do mundo são deixados à política e à legislação ordinária’, afirma Barroso.” (The Economist, 14 de abril 2024). Tradução livre
A The Economist acerta ao buscar associar o nosso tempo de permanência nas redes sociais com a política que se faz no Brasil e os dados oferecidos pelo Pew Research conferem um peso a mais para essa conexão. Para nós, os números indicam com precisão o quanto os brasileiros se servem das redes sociais. Entretanto, porcentagens tão expressivas despertam o interesse por algum tipo de vantagem obtida por meio dessas vias de comunicação.
Os números impressionam uma vez que nos colocam na dianteira do ranking dos países que mais acessam a internet, seja através de redes sociais específicas ou pelo tempo que passamos conectados. Mas evidentemente, não nos servimos desse tempo todo somente para jogar conversa fora. Negócios são realizados em nosso país através das redes, sendo que o WhatsApp se tornou um recurso bastante utilizado para o agendamento de compromissos, serviços, solicitações de trabalho e devolutivas. Enfim, nem tudo nas redes é somente baixaria, mesmo que seguramente percamos muito tempo trocando farpas políticas entre uns e outros.
O que vem sendo debatido sob o guarda-chuva conceitual do controle (ou não) da internet mais nos parece uma contrassenha para a disputa pelos lucros auferidos pelo tráfego de informações. Liberdade de expressão não é algo que genuinamente atrai os brasileiros, motivo pelo qual vem sendo tomada como uma abstração que serve a interesses difusos e contraditórios. Trata-se de um ruído a mais na negociação de preços e ganhos e como tal deve ser tomada.
Como corolário dessa proposição, temos a retomada permanente da preocupação com o critério de escolha dos eleitores e da dúvida quanto ao fato de que eles conseguiriam pensar por si mesmos sem que fossem conduzidos pelas redes sociais. O “brasileiro não sabe votar” segue sendo um juízo que tem a sua validade posta à prova pelos mais variados campos da política. No atual momento, ele nos recorda de custos, ganhos volumosos e interesse pela participação nessa empreitada tão atraente.
Veja a LABÔ Lecture com Fernando Amed:
https://offlattes.com/archives/12447
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