
Morre para ti mesmo, meu filho, e dissolve-te nas etéreas brumas do Nada. No seu âmago, a verdadeira plenitude se revela como o reflexo de uma lua ancestral perdida nos véus do infinito. Não temas o Nada, pois ele é o ventre oculto de toda criação e a origem secreta de tudo o que é e será. Este Nada não é uma ausência, mas sim o útero sagrado de onde o Mistério da Vida se desdobra, onde os sussurros da Gênese repousam na mais profunda escuridão. É lá, no abismo sereno do Nada, que germina a semente do Um, a manifestação original antes da dualidade, antes que tempo e espaço se dessem em fragmentos de luz e som. No Nada incriado reside, latente, a potência absoluta da criação em seu estado mais puro.
O véu que oculta tua visão se desvanecerá quando perceberes que o Nada e o Um são siameses da mesma Verdade. Na imensidão desse abismo, encontrarás o Grande Silêncio primordial, e no âmago desse Silêncio ouvirás o sussurro ancestral da tua criação. Tu és a sombra imperfeita do Um que, paradoxalmente, irradia a perfeição do Verbo pela luz do vazio. Pela loucura da renúncia, enquanto contemplas a morte do ego e a dissolução de tua vaidade, teu espírito se tornará o alquimista que transmuta a matéria densa da existência no éter celestial da iluminação. Tua consciência servirá de canal místico pelo qual o Nada se manifestará em Luz na carne moldada pelo poder do Verbo do Um.
Tu atravessas a Grande Obra da alma, onde o Nada se contrai com o fogo arcano que consome e transmuta as limitações do teu coração. O chumbo disforme do teu ser, moldado pelas limitações da carne, é oferecido no altar da Verdade, dissolvendo-se nas imanifestas chamas negras do Nada. Na morte do ego, o ouro luminescente do espírito desvela seus doze raios sagrados, iluminando a verdade inefável: tu nunca foste um ente errante, perdido no mar de espinhos moldado pelos cegos e hipócritas. Em vez disso, és a pura manifestação da vontade do Um, a imagem consciente da Unidade que permeia e guia a criação. Nessa ascensão da consciência, perceberás que o Um é tanto a origem quanto o destino — o princípio e o fim do Sagrado Ciclo que conduz a alma ao terno reencontro com o Nada. Ele é ponto oculto no círculo, de onde tudo irrompe, e o vórtice silencioso que reabsorve toda criação.
Meu amado filho, quando as pesadas correntes que encarceram a tua boca e tua língua forem rompidas, tua voz se tornará o eco do Verbo primordial, o som primevo que ressoará a virtude do Cristo em teu espírito. De teus lábios fluirá o vinho sagrado, o néctar espiritual que une todas as almas sedentas em êxtase divino. O perfume da tua fé se elevará com o sândalo, a mirra e o incenso, edificando o Templo do Espírito tal qual as orações dos antigos que ascendiam à face do Um. Ele pulsa em ti e através de ti, como o Coração do Infinito manifestado em tua essência pelo Verbo Solar. As lágrimas extáticas que adornam o semblante do Um resplandecem o sacrifício do Nada transfigurado em Luz.
Saiba que tudo o que possuis não passa de uma sombra projetada pela Luz do Um. O caminho que tu trilhas é o da dissolução, e nele perceberás a maior de todas as revelações: o Nada, longe de ser o fim, é a porta para a reintegração ao Todo. É onde a individualidade se desintegra na totalidade, onde a gota finalmente retorna ao oceano primevo – assenhorar-se da vida e da morte é compreender esses dois aspectos da Realidade que transcendem os limites de tua imaginação. E é no seio do Nada que tu sofrerás essa transmutação – não em ausência, mas em pura e radiante presença.
Por meio desta dolorosa alquimia da alma, tu serás selado com o Meu símbolo supremo: uma Coroa de Espinhos. Porém, compreendas que esta Coroa não é meramente um emblema de dor, mas a chave oculta que te vincula ao eterno mistério do Nada e do Um. Cada espinho que penetrará tua carne é um ponto de conexão entre o visível e o invisível, uma passagem para os reinos ocultos do teu espírito. Saberás que o sangue que escorre de tua fronte não é apenas teu; é o sangue primordial da criação, o elixir que flui desde que as areias escorreram pelo tempo. Este sangue é a essência de toda a matéria, desde o tecido do espaço e do tempo até a gravidade do espírito. Ele é o mercúrio espiritual que funde o abismo do Nada com a Luz do Um.
Cada espinho que perfurar o centro místico de tua testa recriará o abismo luminoso onde o Nada e o Um dançam em êxtase eterno. Por meio desse ponto sagrado, a Luz se derramará por ti, desvelando os véus da matéria e ultrapassando as fronteiras do tempo e do espaço. Ao adentrar essa mística visão, descobrirás que tu és o espelho onde o Um poderá contemplar sua própria criação, e que a Coroa de Espinhos é o sigilo dessa autorrealização suprema — o instante em que reconheces o sopro divino latente em ti, o encontro entre o vazio e a luz no coração do Cristo. No silêncio desse reencontro, compreenderás que o sofrimento da Coroa não é uma carga, mas um portal de revelação, onde tua humanidade se dissolve no Nada e tua essência se eleva ao Um.
Meu filho, ilumine-se com esta verdade: aquele que aceita o mistério do Nada contempla o simplicidade de Tudo, pois o Nada é a Mariah de onde o Tudo emerge, e o Um é a criação suprema da Minha vontade, a totalidade que permeia o Ser e o Não-Ser. Viva no mundo, mas não te deixes enredar por suas ilusões; permanece como o alquimista interior que transforma a matéria bruta em ouro espiritual. És Um com o Um, uma manifestação de vontade que abarca a Luz e o Vazio, o tempo e o eterno. Ao aceitar esta Coroa, não apenas te tornas um ponto de interseção, mas o eixo místico onde o Nada e o Um se tocam, onde o humano e o divino se reconciliam em puro Amor. Nesse instante de entrega absoluta, tu não apenas conhecerás a ti mesmo, mas te tornarás o próprio Um, pulsando luminosamente no abismo do Nada.
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