
Escrever sob a responsabilidade da formação política, demonstrar atenção à ética, possuir uma ideologia de pelúcia para se abraçar ao dormir, transparecer boas e isentas opiniões e manifestá-las até quando se coloca o pingo nos is. Mesmo sabendo dos estudos de sociobiologia de Edward Wilson (1929-2021) cujos resultados indicam que se tivéssemos perseverado na filantropia, a seleção natural nos cuspiria para fora do planeta, alguns seres persistem na propaganda de que eles sejam e que todos devamos ser preocupados com os outros. Militantes de Instagram somente podem mudar o número de seus seguidores e, mesmo assim, se estiverem na crista da onda digital. Trata-se de se dar conta que não é sobre pensar no próximo, mas em si mesmo tomando o outro como um meio. É dessa maneira que nos reencontramos com o que somos de fato. Quem se pronuncia assim? Alguém que se acha e se julga superior aos demais mesmo que manifestando a aparência de preocupação com o próximo. Retomando aqui que a compaixão se aproxima do milagre e por isso nos comove.
Jason Brennan no seu exercício de epistemologia radical que fez de seu Against Democracy (Princeton University Press: Princeton & Oxford, 2017) um sucesso para quem tem espírito cético já dizia que é um mito a crença de que uma pessoa deva se conscientizar sobre política para então abandonar a alienação em que se encontrava. Para Brennan, ao reconhecer a política, o indivíduo se aproxima da corrupção. Esqueça os filmes que fazem da política um bem bolado com as comédias românticas. Abandone qualquer esperança de que existam políticos profissionais que pensem no bem público.
Há muito se diz que a crença nos políticos é fruto da ingenuidade ou da falta de caráter. Tudo isso porque nada existe ali que indique a razoabilidade desse credo. Melhor seria acreditar que o alinhamento de três planetas lhe garanta seu amor a seus pés. Aliás, o mesmo Brennan nos propõe que façamos das eleições um sorteio. Você acha que muita coisa iria mudar se a escolha fosse feita assim? Creio que nem um pouco e ainda nos livraríamos de todo esse saco de polarização. A classe política largaria do nosso pé e deixaria de nos tornar reféns de suas ambições mais espúrias. O problema é que esse mesmo processo seria seguramente corrompido em nosso país já que o crime se alojou entre nós.
Pode parecer que adentro aqui em um tipo de anarquismo ou que então abro espaço para ser visto como alguém contra a democracia. Só que não. Entendo que deveríamos dar de ombros para a classe política e manifestarmos o nosso desgosto inclusive para aquele que foi eleito. Nem digo eleito pelo nosso voto, pois isso já é uma tolice que faz crer que cada voto vale para quem foi eleito. Nada, se você vota ou deixa de votar, nada muda no resultado final. E se todos pensassem assim? Todos não pensariam assim. Não deveríamos exaltar os políticos jamais e sim cobrarmos para que trabalhem: no Brasil, esses caras têm vida fácil em todos os sentidos.
O fato é que o eleitor envaidecido tira uma da cara do outro simplesmente porque insiste em se mostrar mais sábio mesmo que esteja blefando todo o tempo. Fosse diferente, não elegeríamos figuras patéticas como Lula, Bolsonaro ou Trump. Quer defender alguém? Escolha um cidadão qualquer. Um vizinho, um frentista ou caixa de supermercado, mas nunca um político. São pessoas que nada fazem na vida a não ser em pensar como ser cruel com os outros. O foco sempre será tirar o seu dinheiro de um modo que se pareça legal, tipo pensando no bem de todos.
Uma boa notar que quando levamos a política a sério, estamos é dando justificativa para que o crime continue. Pode ser que em outros países do mundo isso se manifeste de modo diferente. Mas não por aqui. O político reina e não por acaso é chamado de doutor, herança do tempo da colônia. Imagine os problemas que todos enfrentamos do tipo contas a pagar, empréstimos a fazer, concluir um inventário ou enterrar um falecido. Tudo isso é diferente se você é político ou se tem um bem próximo de você. Não é sobre ideologia que se fala aqui, mas sim da propensão ao ilícito quando uma pessoa se apresenta como deputado ou senador. A simples hipótese de que alguns sejam diferentes deixa passar uma boiada.
Os políticos somente pensam em praticar dolos. Quando não o fazem, deixam de ser eleitos uma vez que nenhum colega quer alguém que não ajuda nada na corrupção. Divirto-me com o cinismo com aparência de cultura superior daqueles que defendem a classe política supondo que alguns sejam melhores do que outros. A esquerda é quem mais perde com isso, já que de longe, quando alcança a maquina política, faz o que pode para depenar o erário nacional, mesmo que passando a ideia de que é herdeira de Robin Hood. Chegará um tempo em que abandonaremos as ideologias e passaremos a julgar a política como um terrível mal necessário? Creio que jamais.
Suponho que possamos ter uma inteligência artificial que possa substituir os políticos. No entanto, acredito que se tal feito fosse possível, conheceríamos pela primeira vez uma IA corrupta. Na política, o algoritmo já vem envenenado há tempos.
Veja a LABÔ Lecture com Fernando Amed:
https://offlattes.com/archives/12447
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