
A mão que toca um violão
Se for preciso faz a guerra
Mata o mundo, fere a terra
A voz que canta uma canção
Se for preciso canta um hino
Louva à morte (…)
Quem tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira
Prá defendê-la se levanta
E grita: Eu vou!
Violaenluarada, Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle
Esqueçam a publicidade do bem. Abandonem o otimismo do mercado. Desistam das autoajudas e do coaching. Afastem-se das artimanhas do wokismo. O mundo continua o mesmo há mais de dois milênios e o Oriente Médio nos demonstra isso quase que o tempo todo. Alguém aqui já pensou que os povos daquela região simplesmente gostam de guerrear? Sim, uma vez que cumprem com afinco essa tarefa que é uma verdadeira obsessão.
Há alguns anos, eu tive a oportunidade de conhecer Israel e de avistar a Síria do Golan. Perto dali eu conheci um kibutz raiz do tipo daqueles erguidos sob a influência da esquerda, quando da fundação do Estado de Israel. Em um caso como no outro, o chão dava umas tremidas e ouvia-se o ruido de bombas. Nada que fizesse as pessoas abandonarem o que estavam fazendo. Quando perguntei como era viver sob essa tensão, tive tempo para perceber que acabava de fazer uma pergunta idiota. A jovem kibutznik me respondeu o óbvio: que se acostumara com isso. Depois seguimos para o almoço e a vida continuou como sempre. Do topo do Golan, avistava-se uma grande planície repleta de escombros e abandonada. As pessoas com quem conversei diziam que sempre tinha alguém jogando bomba por ali. Às vezes contra Israel e outras contra facções internas.
Israel nos faz retomar a história de Esparta, cidade-estado grega que era uma máquina de guerra, tal como a beligerância fazia parte de suas vidas. Soldados armados por todos os lados e vez ou outra um equipamento militar. Jatos supersônicos rodando nos céus todo o tempo, de dia ou de noite. Lembro-me de ter acordado em uma madrugada e pensar: quantos mísseis estavam apontados para onde eu me encontrava. Voltei a dormir e peguei no sono. Nas manhãs e noites seguintes, muitos passeios, restaurantes e lugares para visitar aos montes. Povo enérgico e cheio de vida, mesmo que praticamente o único assunto nos jornais fosse os riscos de um confronto ou a suspeita de novos ataques terroristas.
Na manhã de 7 de outubro de 2023, a primeira coisa que eu pensei foi na tragédia revivida pelo povo judeu, para o qual tenho empatia. A segunda ideia foi a seguinte: Israel não se pode dar ao luxo de acreditar que suas cidades sejam as mesmas do Reino Unido ou da França. A riqueza material, nesse caso, é o risco maior quando envaidece a alma e se esquece de que a vida no Oriente Médio sempre está por um fio de cabelo.
Esse é um tipo de problema que os países que cercam Israel não possuem. A pobreza combinada com a religião dispõe aos árabes a sobrevivência de um modo explícito e sem a falsa metafísica da felicidade produzida pelo Ocidente. Se os israelenses vivessem como nós, já estariam fora do mapa. As festas que por lá ocorrem tendem a ser mais alegres uma vez que podem ser as últimas. Cabe ao guerreiro saber que o fim se avizinha e que sempre deve estar preparado para a guerra. Se a referência em Israel fosse de lideranças pacifistas, seria o fim daquela experiência que não passa de um episódio de curtíssima duração em relação à história do povo judeu.
Isto posto e não devíamos jamais nos surpreender com as guerras que ocorrem no Oriente Médio e buscar a responsabilidade de um ou outro político da região. Temos que ter a certeza de que as batalhas e o uso da força jamais acabarão. Depois de um grande confronto que termine com um vencedor, uma temporada de paz deve se seguir para então novamente eclodir outra guerra, depois de muitas escaramuças de pequena monta.
É uma tolice supor que o confronto que ora vivenciamos entre Israel e Irã seja devido à ambição de Bibi Netanyahu de procurar se salvar da justiça e do afastamento do poder. Que líder de Israel iria promover um confronto dessa magnitude por um motivo tão comezinho? Bibi é um estadista e, como tal, pressentiu a oportunidade de derrotar um inimigo cuja posse de armas nucleares colocaria em riso toda a região. Desde 1979, as lideranças políticas iranianas têm dado sinais evidentes de desconfiança para com o Ocidente. Não saudamos a guerra, mas chegamos até ela como a última carta, e no caso de Israel, quando se entende que toda uma nação está sob alerta máximo de segurança.
Cedo ou tarde mais países da região conseguirão dominar a tecnologia nuclear, haja visto que ela é conhecida há um bom tempo. A dissuasão nuclear vigente entre Estados Unidos e União Soviética quando da Guerra Fria parece inimaginável no Oriente Médio, a se crer nas manifestações oficiais das nações que querem tirar Israel do mapa. O gosto pelo ódio e o desejo de matar é tão ou mais forte que a vontade de viver.
Veja a LABÔ Lecture com Fernando Amed:
https://offlattes.com/archives/12447
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