
Nosso hino foi escrito no estilo da fala de Mestre Yoda quando estava para morrer em Dagobah System. Em geral, canta-se no embalo uma vez que a melodia vai aos trancos, parece que anunciando uma tragédia, essa sendo a única sensação mais verdadeira ou menos mentirosa. Nada ali guarda a mínima relação com a verdade dos nossos dias. Sentimos que alguém está tirando uma da nossa cara uma vez que se trata de um conto de fadas muito ruim e que piora quando lembramos que está falando do Brasil. Temos outros hinos bem melhores, o da independência e o da bandeira que, mesmo que mentirosos, não são tão bregas como o grito do Ipiranga, o que ao certo, não se sabe se aconteceu ou não. Quer mais mau presságio do que uma proclamação de independência realizada pelo filho do rei da metrópole? E o golpe militar que deu origem à república do Brasil, o que dizer sobre isso? É por isso que nossa história está repleta de contra golpes. É preciso que treinemos para encontrar o Wally que no Brasil é o próprio povo, para sempre acompanhando o que acontece de modo abestalhado. Todo o barulho provocado nas redes sociais apenas camufla a ignorância política de sempre. No Brasil, se é ignorante em política de esquerda à direita, mudando somente o CEP.
Pergunte sobre patriotismo para alguém que tenha passado dos 80 anos. Se essa pessoa pagar um plano de saúde, pergunte o preço. Explique para estrangeiros que quando se tem 15 anos de idade, se paga muito pouco pela saúde sendo que o preço se torna estratosférico quanto mais se envelhece. Mais exatamente naquele instante de sua vida em que você não consegue mais realizar quase nada de grana. Mas se você tem somente a saúde pública, prepare-se para o que virá.
Nossas capitais são dominadas pelo crime e não se faz nada sobre isso por motivos que não se consegue explicar. E se uma proposta feita pelos Estados Unidos de enquadramento do nosso crime organizado na categoria de terrorista, nosso governo não aceitará. Aqui talvez um caso de patriotismo pelo crime que tem as cores da nossa bandeira, algo como “o crime é nosso!”. Dá até vontade de falar da bandeira, mas seria muita apelação para uma coluna somente. Digamos somente que é outra grande mentira, dessa vez, positivista. Você vê ordem e progresso por aí? Bem, se pensarmos em corrupção…
Nossos políticos defendem suas causas e nada mais. Os partidos mudam de cores, mas se equivalem. Parece haver uma cota de esquerda e de direita, o que por aqui não se diferencia muito pois sem acordos não se compra nem um picolé. O ponto básico é que não se deve mexer com eles jamais e isso inclui o crime propriamente dito. Não temos compreensão do que seja a democracia e nos damos muito mal com a liberdade. Motivo pelo qual sempre entendemos que deve se ter controle sobre a internet, sobre jogos, sobre vícios, mas nunca sobre o crime uma vez que ele nos une a todos. A inoperância do estado contra as quadrilhas organizadas permite perceber o quanto se privatiza tudo por aqui, mesmo que muitas vezes com o dinheiro público, propriamente dito. Mas da boca para fora, tem quem defenda a soberania e que seja contra qualquer tipo de privatização. Temos um ensino que nos envergonha e quem pode coloca os seus filhos em uma escola privada bem cara para evidenciar a distância do que é público. Amamos pagar pelo transporte individual, pelo ensino, pela segurança e pela saúde. Mas questionamos a privatização da Petrobras sem ao menos saber o porquê. A hipocrisia é nossa maior virtude e a maioria daqueles que saem por aí na defesa do SUS – alguém se lembra do bordão “viva o SUS”? – do ensino público ou da tarifa zero, estudou nas escolas mais caras e frequenta os restaurantes descolados da Vila Madalena.
Nossas universidades se saem muito bem nas pesquisas internacionais uma vez que quem está fazendo um bom trabalho é convidado a sair do Brasil e ir para o exterior. Quais as condições de desenvolvimento de estudos mais aprofundados em nosso país? Já as universidades públicas que se voltam para as humanidades fornecem quadros para a continuidade da nossa lenga-lenga cultural. Jornais são pouco diferentes uns dos outros e por isso nada atraentes, até mesmo porque perdeu-se a noção do que venha a ser objetividade. Quem ainda guarda paixão pela pesquisa a sério, recorda-se com saudades da rendição ao texto e da busca detida no encetamento do objeto de pesquisa, tudo isso sem pender para um ou outro espectro político.
Tudo isso e mais um pouco vem a minha cabeça quando escuto falar de patriotismo ou soberania nacional. Quando criança, ouvia de meu pai que na Segunda Guerra Mundial os estudantes de direito do Largo São Francisco foram às ruas clamando pela entrada do Brasil na guerra contra o eixo. Eu tive a oportunidade de conhecer o zelador da escola pública em que eu estudei que era um veterano de guerra. Não havia nenhum reconhecimento do que tinha feito. Os futuros bacharéis em direito que iriam dominar a política nos anos que se seguiram lutaram nas ruas para que os pobres fossem para a guerra e nada mais. Esse é o tipo de patriotismo que temos, assim mesmo, terceirizado. No mais, procuramos aqui alguma nação para nos ancorarmos contanto que ela dê suporte para a permanência da corrupção deslavada.
Veja a LABÔ Lecture com Fernando Amed:
https://offlattes.com/archives/12447
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