Judaísmo Contemporâneo: Filosofia e Literatura Judaicas

Humanus ou a construção do antissemitismo

Em 2001, em resposta a uma denúncia recebida, o Ministério Público Federal pediu a abertura de um inquérito contra a Editora Sama, com sede em Campinas (SP), para averiguar o conteúdo ideológico da revista Humanus, acusada de publicar textos de caráter antissemita e filonazista. A revista Humanus, anuário que se apresentava como “uma revista a serviço da evolução do homem”, foi publicada desde o ano 2000 até pelo menos 2008, com primorosa qualidade de impressão e a opção de não inserção de anúncios pagos.

O artigo que segue foi publicado, na época, com o objetivo de contribuir para uma necessária reflexão sobre as ameaças envolvidas na propagação de ideias excludentes de grupos minorizados, em particular de caráter antissemita e supremacista. Está sendo republicado agora – com pequenos ajustes de linguagem e acrescido de algumas reflexões atuais – em vista do recrudescimento dessas manifestações.

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A revista Humanus, que já se encontra em seu segundo número, tem a ver com literatura: o primeiro número, de janeiro de 2000, se apresenta como anuário literário; o segundo, de janeiro de 2001, como anuário cultural. A revista Humanus tem a ver com judaísmo? Em princípio, não: a publicação é ligada a uma entidade denominada Centro Espiritual Beneficente União do Vegetal, com sede em Campinas, SP.

Por que, então, a pergunta? Porque a revista dedica a temas judaicos e a indivíduos publicamente vistos como judeus um número de artigos e um espaço que não se compara com qualquer outro vértice, excetuados a União do Vegetal e o chá Oaska, cuja distribuição é uma das principais atividades da União do Vegetal.

Vejamos como se manifesta esta propensão a focalizar judeus e judaísmo: no primeiro número, o artigo Ciladas da Curiosidade apresenta um retrato estilizado da escritora Clarice Lispector [p. 18]; o artigo A ditadura dos meios de comunicação faz referência a um “Baú da Vulgaridade”, imagem logo e por qualquer um associada com o Baú da Felicidade do judeu Silvio Santos [p. 21]; o artigo Telecomunicações, liberdade e educação termina exclamando: “é uma vergonha!”, bordão ligado ao apresentador de televisão também judeu Boris Casoy [p. 24]; o artigo Idolatria analisa “… o bezerro de ouro mais fervorosamente adorado pelo povo a que Abrahão deu origem” [p. 32]; no final do mesmo artigo, caricaturas dos judeus Albert Einstein, Sigmund Freud e Karl Marx são estampadas com referência imagética aos totens dos índios norte-americanos [p. 36]; logo a seguir, o artigo As grandes fraudes do século XX (17 páginas) é dedicado justamente a Freud e a Einstein; o artigo Judaísmo e Preconceito (3 páginas) trata da obra e das ideias do escritor Jeffrey Lesser; o artigo Quem quer dinheir….? traz no próprio título outra alusão a Silvio Santos [p. 123]; a seção Crônicas e Agudas tem por epígrafe uma citação do Talmud [p. 142]; o artigo O Ritual da Carne dedica amplo espaço ao subtítulo O ritual Kosher [pp. 154-155]; o artigo O julgamento de Eva ficciona uma audiência concedida pelo “velho Jeová” a diversos pensadores, entre os quais Heinrich Heine [pp. 166-167].

Insuficiente presença judaica até agora? O segundo número, já na primeira contracapa, justapõe a citação de Alfred Rosenberg, ideólogo do Nacional-socialismo, “Nunca neste mundo se alcançou algo grande sem entusiasmo”, à de Theodor Herzl, ideólogo do Sionismo Político, “Se quiserem, isto não será um sonho”; A face oculta de A História Esquecida (8 páginas) é uma “Adaptação do conto A História Esquecida, de Martim Buber” sobre um episódio atribuído ao Baal Shem Tov, fundador do hassidismo; o artigo Ciência sem Consciência trata, entre outros, da “… atitude dos cientistas que se envolveram nas pesquisas nucleares cujas consequências trágicas são bem conhecidas”, alusão óbvia à participação de Albert Einstein no desenvolvimento da bomba atômica norte-americana [p. 43], tema, aliás, amplamente exposto em outros textos; o artigo Nikola Tesla – Um gênio desconhecido traz uma seção intitulada Tesla e Einstein [p. 54]; o ponto alto deste segundo número, que amplia e aprofunda o tema já esboçado na contracapa, é o artigo Sionismo x Nazismo – a semelhança dos opostos, seguido de Hitler e Einstein, num total de 21 páginas; mais adiante, o artigo O afundamento do Wilhelm Gustloff conclui-se com o seguinte comentário sobre o encontro, 48 anos depois, entre um dos sobreviventes do navio afundado e o marinheiro soviético que disparara os torpedos: “Ambos apertaram-se as mãos em sinal de reconciliação. Este exemplo deveria ser seguido por milhares de pessoas que há meio século se mantêm presos a rancores e ressentimentos do passado” [p. 108]; o artigo Sociedades Secretas denuncia a existência de uma sociedade denominada Bilderberg, dedicada, segundo a revista, a um “plano oculto de dominação mundial”; a sociedade não é caracterizada como judaica, mas entre seus membros são relacionadas diversas personalidades reconhecidas como judeus ou com nomes obviamente judaicos, como: Israel Asper, Henry Kissinger, André Levy-Lang, George Soros, Dominique Strauss-Kahn; a série Fraudes da História, inaugurada no primeiro número, tem sequência agora com o artigo (10 páginas) Marx, o ideólogo do crime; o artigo Psicoterapia – uma forma de fugir de si assinala que “A psicoterapia, como se sabe, nasceu da psicanálise, cujo pai é Sigmund Freud. E a psicanálise foi uma proposta de cura de patologias psíquicas que não serviu para curar nem seu próprio fundador, uma vez que ele mesmo não conseguiu deixar de ser um cocainômano e um obsessivo sexual até o fim de seus dias.” [p. 186]; aliás, a imagem de Freud que ilustra o artigo Freud e sua obsessão sexual no primeiro número sobrepõe à sua cabeça a representação de uma mulher nua, em postura francamente erótica, beirando ao obsceno; a seção Crônicas e Agudas, inaugurada no primeiro número já com a epígrafe tirada do Talmud, no comentário Dinheiro sujo não traz boa sorte tenta vincular o banqueiro Edmundo Safra com o narcotráfico [p. 190] e no comentário Tudo em família indica que a Petrobras está sendo tomada por judeus; textualmente: “A Petrobras acaba virando um emirado judaico.” [p. 191].

Esta polpuda presença nos artigos da Humanus de temas judaicos e de judeus, como povo e como indivíduos é, talvez, coerente com a participação de judeus no conselho editorial da revista: segundo informa a jornalista responsável, ela própria e pelo menos 50% dos membros são de origem judaica [número 2, p. 12]; e eventualmente se reflete no fato de a revista ter recebido cartas elogiosas também de leitores judeus, como se vê na seção Cartas dos Leitores, inaugurada no segundo número.

Em consequência, parece plausível e oportuno abordar a revista num contexto de “Arte, literatura e cultura judaica no Brasil”.

Em particular, entre tantos textos a reclamarem uma leitura cuidadosa, acho merecedor de profunda reflexão o artigo Sionismo x Nazismo – a semelhança dos opostos [número 2, pp. 69-85]. A frase que o sintetiza é: “Se não são iguais, são bem parecidos” [pp. 84-85]. O articulista propõe que “… aquele que conseguir lançar um olhar atento e sóbrio sobre o conflito será capaz de enxergar, por trás do mar agitado e tempestuoso da discórdia, o mais interessante fenômeno de espelhamento que pode se dar nas relações humanas. E chegará à conclusão de que o círculo violento só poderá ser rompido quando cada uma das partes começar a refletir seriamente sobre si mesma, ao invés de descarregarem nos outros seus problemas de consciência” [p. 70]. Tentemos, então, “lançar um olhar atento e sóbrio” sobre “o conflito”.

O articulista afasta-se prudentemente de qualquer adesão a grupos neonazistas e mesmo de qualquer simpatia pelos atos nazistas praticados entre 1933 e 1945. Afinal, diz ele, “… são conhecidas várias características negativas do nacional-socialismo. O fundo racista de sua ideologia, o recurso ao terror como forma de tratar os oponentes, as ideias imperialistas, tudo isso são aberrações condenáveis” [p. 71]. Porém, identifica o sionismo como o outro polo de uma relação bipolar, e ressalta o funcionamento de uma indústria do Holocausto, que se dedica a promover, entre aqueles a quem visa, a “… renúncia a uma compreensão satisfatória dos acontecimentos históricos, que se tornam totalmente absurdos e prontos para serem instrumentalizados demagógica e propagandisticamente” [p. 70]. Na opinião expressa do articulista, “… foi em decorrência dela [a instrumentalização demagógica do Holocausto] que no imaginário do pós-guerra o nacional-socialismo se tornou o símbolo do mal radical e absoluto” [p. 71]. O que equivale a afirmar que a associação corrente entre nazismo e mal não se deve aos atos praticados pelos nazistas entre 1933 e 1945, mas à apropriação demagógica levada a cabo pelos “industriais do Holocausto”; e remata: “E também a condenação do nacional-socialismo tem sido hoje usada como um escudo protetor capaz de esconder muita hipocrisia. Principalmente porque, através de uma inversão estrategicamente planejada, a acusação de nazista pode ser usada para desqualificar exatamente aqueles que procuram denunciar essa hipocrisia” [p. 70]. Em outras palavras: os judeus são tão nefastos quanto os nazistas. Criaram uma indústria do Holocausto e utilizam sua estrutura para, condenando o nacional-socialismo, erguer um escudo protetor para ocultar sua própria hipocrisia. E aqueles que se atrevem a denunciar essa hipocrisia são, pelos judeus, acusados de nazistas, numa estratégia planejada para desqualificar os denunciantes.

Mas o articulista está falando de judaísmo em geral ou está particularizando os sionistas? Afinal, sempre se poderia dizer que nem todos os judeus são sionistas, nem todos os judeus emigraram para o Estado de Israel, etc. Como no texto abundam expressões do tipo “certos reflexos condicionados da alma judaica” [p. 74], “uma grande quantidade de usurários oriundos da fé judaica” [p. 75], e assim por diante, pode-se descartar a ideia de que o articulista esteja elaborando qualquer clivagem no conjunto do povo judeu para isolar os sionistas. Na verdade, o autor é bastante claro ao associar a presença judaica na elite financeira internacional, que em sua análise remonta à era do desenvolvimento do mercantilismo e dos primeiros passos do capitalismo, portanto obviamente anterior ao surgimento do movimento sionista, com o que considera o núcleo da ideologia judaica: “Foi então que o velho ressentimento, que havia muito rondava a mentalidade judaica, encontrou um eficiente canal de expressão prática. Pois aquela elite financeira logo percebeu que o poder do dinheiro tornava finalmente realizável um projeto latente no subconsciente judaico, e que sempre havia parecido apenas uma quimera: dominar efetivamente o conjunto da sociedade gentia. [p. 75, grifado por mim]. Em resumo, o autor do artigo afirma que o sionismo, longe de ser estranho ao judaísmo, não seria nada mais do que o braço político-militar encarregado da execução daquele projeto multissecular, tão longamente reprimido.

Para demonstrar a profunda parecença entre nazismo e judaísmo, o articulista assinala: “Durante a guerra, os nazistas forçaram ao trabalho escravo muitas populações submetidas, enquanto que o dinheiro das finanças judaicas escravizou e ainda escraviza sociedades inteiras” [p. 76].

A questão de fundo, então, segundo o artigo, é que o judaísmo é tão nefasto quanto o nazismo. Duas forças equivalentes, em eterna oposição, igualmente capacitadas a desferirem os mais duros golpes contra o adversário eterno, diferentes apenas  nas armas utilizadas. As acusações levantadas pelos judeus contra os nazistas não diferem, em essência, das acusações que os nazistas, e os antissemitas seus precursores, bradavam contra os judeus. Generosamente, o articulista sugere: “talvez seja o caso de se considerar se não seria mais inteligente e proveitoso realizar um sério exame autocrítico a fim de investigar se tais acusações não terão algum fundamento” [p. 72]. Em outras palavras, talvez o assim chamado Holocausto não passe de uma batalha vencida pelo arianismo na guerra milenar travada entre judaísmo e arianismo na disputa pelo domínio da humanidade.

Vejamos de perto em que consistem as acusações que, de acordo com o artigo, pesam sobre os judeus:

O problema de origem (tanto no sentido temporal quanto no ontológico) consiste na importância dada pelos judeus à questão da “pureza racial”, somente comparável à importância que os próprios arianos deram à mesma questão. E isso remete a um formidável equívoco cometido pelos judeus em relação ao tema bíblico da “eleição”, agora detectado pelo articulista: “Os descendentes de Abrahão não souberam compreender a sentença que, segundo se lê no Velho Testamento, Jeová disse ao patriarca: que sua estirpe era escolhida entre todas”. Mais especificamente: o povo judeu estaria predestinado a receber o Messias, Divindade encarnada, portador de uma Mensagem universal, “… Mensagem de conciliação que declararia todos os povos como filhos do mesmo Deus” [p. 72]. No entanto, “… os antigos hebreus interpretaram a ‘eleição’ em um sentido exclusivista, ou seja, em um sentido diametralmente oposto ao seu verdadeiro significado” [p. 72]. Em outras palavras, os judeus se apropriaram, para seu uso exclusivo, da mais preciosa dádiva divina, de justo direito propriedade de toda a Humanidade.

Alguns milhares de anos após Abrahão, ainda seguindo o pensamento do articulista, “… chegou a Mensagem tão esperada, através de Jesus /…/ o único e verdadeiro Judeu, que foi desprezado pela maioria como uma espécie de traidor” [p. 73]. Jesus, então, teria conseguido, sozinho, “… aquilo que [os judeus] em séculos de guerrilhas, conspirações e conchavos políticos não haviam conseguido: a derrocada do temível Império Romano, com a consequente libertação do povo judeu” [p. 73]. Não fica muito clara no texto, infelizmente, a ligação entre o cristianismo e a derrocada do Império Romano, nem em que consistiu a libertação do povo judeu; vale lembrar que os judeus tiveram seu principal símbolo nacional, o Templo, completamente arrasado; foram proibidos de residir em Jerusalém; e objetivamente condenados a serem um povo sem Estado, condição que perdurou por cerca de dezenove séculos.

Agora o articulista salta alguns séculos, até a Idade Média, para assinalar que “… milênios de imigrações, escravizações e privações” não tinham conseguido que os judeus percebessem a impossibilidade da “… ideia religiosa do povo eleito e sua tradução na ideologia da supremacia política. Mas, ao que se sabe, não houve, por parte dos judeus, uma real tentativa de revisão das bases de sua fé” [p. 73]. Ao contrário, os judeus teriam trabalhado o sofrimento de forma absolutamente masoquista: “É isso que dá ao sofrimento o sabor de um verdadeiro troféu entre os judeus, um troféu digno de ser lembrado por todas as gerações em todos os milênios” [p. 73]. Em consequência, os judeus, de forma totalmente espontânea, se isolam, étnica e socialmente, formando guetos “… no sentido de comunidades judaicas fechadas e autônomas inseridas no interior de sociedades não judias” [p. 73]. O articulista, naturalmente, reconhece que “no período medieval, essa tendência ao isolamento, nascida no próprio interior do judaísmo, foi grandemente reforçada e estimulada por fatores externos” [p. 73] aduzindo que “… na Europa totalmente cristianizada, /…/ pesava sobre eles a terrível acusação de deicídio e /…/ era comum a crença de que se tratava de uma raça de adoradores do demônio e de feiticeiros, que envenenavam as fontes e raptavam crianças cristãs para imolá-las em suas reuniões” [p. 73].

De acordo com o articulista, tivessem os judeus percebido “… o absurdo que é as pessoas se darem a tanta dor de cabeça /…/ por causa de um punhado de superstições”, eles “… poderiam então ser capazes de perceber a diferença entre a letra morta e o espírito vivo, e, quem sabe, entender que o Deus sem rosto é aquele que pode ser adorado tanto em uma sinagoga quanto em uma igreja, em uma mesquita ou ao ar livre. Mas esse passo os judeus daquela época não conseguiram dar, pois isso significaria reconhecer a verdade da doutrina do Judeu que eles não quiseram ouvir” [p .74].

Segundo a análise desenvolvida no artigo, esta teimosia judaica, esta obstinação em não reconhecer a verdade do cristianismo e sua mensagem universal de tolerância e fraternidade traz, como consequência inevitável, que agora os judeus são os únicos responsáveis por quaisquer tragédias que venham a sofrer, desde logo absolvendo seus agressores de culpa por qualquer agressão que contra eles venha a ser cometida. Nas palavras do articulista: “É como se a História houvesse condensado em doze anos [o período nazista, 1933 a 1945] todo o desenvolvimento milenar das tendências negativas do espírito judaico de modo a apresentá-las em uma imagem amplificada, que os judeus deveriam aprender a utilizar como instrumento de um doloroso mas necessário autoconhecimento” [p. 75]. Em outras palavras, o nazismo é a resposta lógica ao judaísmo, o Holocausto não passa de um instrumento pedagógico colocado por Deus nas mãos dos nazistas para que, finalmente, os judeus aprendam a lição.

Na visão do articulista, um círculo vicioso une judeus e nazistas: “A principal ideia que estivemos tentando mostrar ao longo de todo este texto é a de que o antissemitismo provoca sempre o fortalecimento das mesmas tendências que pretende combater, e que este fortalecimento, por sua vez, gera novamente o antissemitismo” [p. 80]. Como romper este círculo vicioso? Seguindo a lição de Jesus de que “… não se deve resistir ao mal com o mal. /…/ examinar se as causas primeiras da agressão sofrida não estarão nele mesmo. /…/ Quem almeja a paz tem de vencer o mal em si mesmo para ter condições de vencê-lo no outro” [p. 83]. Mas o que significa “vencer o mal no outro”? Segundo o articulista, “vencer o mal no outro significa fazer-lhe o Bem. É por isso que Jesus falou que devemos amar nossos inimigos, fazendo o Bem àqueles que nos ofendem. Se estão errados, é preciso mostrar-lhes o erro” [p. 83].

O autor salta, em sua apreciação histórica, da época em que Deus estabeleceu seu pacto com Abrahão diretamente para a Idade Média, onde encontra os judeus na posição de “único povo não cristão em uma Europa totalmente cristianizada” [p. 73]. Este salto o leva a atribuir aos judeus uma “tendência ao isolamento nascida no próprio interior do judaísmo”, resultando na “formação espontânea de guetos”; esta tendência ao isolamento seria, em sua opinião, consequência da perplexidade dos judeus ante “… um paradoxo aparentemente insolúvel: o povo eleito (e supostamente superior) é ao mesmo tempo sofredor. E como podem sofrer os eleitos de Deus?”. Então, é natural que sejam rejeitados pelos cristãos: “pesava sobre eles a terrível acusação do deicídio; e seu próprio isolamento e estranheza de costumes atraiam sobre eles as maiores desconfianças. Era comum a crença de que se tratava de uma raça de adoradores do demônio e de feiticeiros, que envenenavam as fontes e raptavam crianças cristãs para imolá-las em suas reuniões” [p. 73]. E pouco mais adiante: “Em uma época eminentemente supersticiosa, em que a religiosidade determinava a maneira de pensar e agir, é natural [grifo meu] que essas representações dessem lugar a grandes e violentas perseguições, além de exclusões forçadas. À autossegregação espontânea dos judeus somou-se então uma forte segregação exterior, em parte explicável pela primeira [grifo meu]” [pp. 73-74].

Em resumo, os judeus são os únicos culpados por suas atribulações, já que não entenderam o significado de sua “eleição”. Uma primeira consequência do salto histórico efetuado pelo autor é que não pôde perceber que seis séculos antes do início da era cristã o judaísmo havia experimentado uma enorme abertura, tanto para as questões sociais quanto para o universalismo (em contraste com o exclusivismo) da mensagem divina, que resultou na formulação de conceitos de justiça social que ainda hoje estão em vigor em toda a civilização ocidental; a ideia messiânica desenvolvida pelos profetas judeus desde pouco antes até o final do exílio babilônico de tal forma permeava a vida na Judéia, na época de Jesus, que se faz presente em praticamente todas as páginas dos Evangelhos. Jesus mesmo, frequentemente, se apresenta como o cumprimento das profecias. De que profecias acha o autor que Jesus fala? Mas se o autor apenas tivesse se detido aos escritos dos primeiros cristãos teria, talvez, percebido que a questão da eleição assume caráter obsessivo justamente para o cristianismo, quando este percebe ser absolutamente indispensável separar-se do judaísmo, saindo de dentro do próprio judaísmo, para reivindicar legitimidade. Mateus, na parábola dos lavradores maus, diz, em nome de Jesus: “Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos” [21:43]; esta parábola é repetida por Marcos: “Que fará, pois o dono da vinha? Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros” [12:9] e também por Lucas, nas mesmas palavras [20:16]. O tema da transferência da eleição dos judeus para os cristãos é desenvolvido com grande amplitude por Paulo no capítulo 3 de sua 2a epístola aos Coríntios, merecendo uma longa citação: “(5) – não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma cousa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, (6) o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica”. Daqui também se percebe de onde tirou o autor a sugestão de que “… [os judeus] poderiam então ser capazes de perceber a diferença entre a letra morta e o espírito vivo …” utilizada no texto [p. 74]. Mas Paulo vai ainda mais longe: “(13) E não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia. (14) Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até o dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido. (15) Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles”.

É preciso insistir mais sobre a importância teológica para o cristianismo de uma Nova Aliança que substitui a Antiga Aliança? De um Novo Testamento que revoga o Antigo Testamento? Da crença em que “os judeus são Israel na carne, mas os cristãos são Israel no espírito”, e portanto os legítimos herdeiros da eleição, do pacto que Deus firmou com Israel na pessoa de Abrahão? Segundo o autor, os judeus perderam a eleição para os cristãos porque, volto a citar, “não foram capazes de perceber a diferença entre a letra morta e o espírito vivo, /…/ entender que o Deus sem rosto é aquele que pode ser adorado tanto em uma sinagoga quanto em uma igreja, em uma mesquita ou ao ar livre. Mas esse passo os judeus daquela época não conseguiram dar, pois isso significaria reconhecer a verdade da doutrina do Judeu que eles não quiseram ouvir” [p. 74]. Ou seja, os judeus teriam sido considerados por Deus indignos da eleição exatamente porque se mantiveram judeus e não se converteram ao cristianismo. E por isso pesa sobre eles “a terrível acusação de deicídio”, surgida naturalmente.

A demonização dos judeus, a ideia do articulista de que na Idade Média “era comum a crença de que se tratava de uma raça de adoradores do demônio”, começa a ser pregada pelo evangelista João: “Replicou-lhes Jesus: Não vos escolhi em número de doze? Contudo, um de vós é diabo” [6:70] e “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhes os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” [8:44]; e também, mais uma vez, desenvolvida por Paulo, agora no capítulo 10 da 1a Epístola aos Coríntios: “(18) Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? (19) Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma cousa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? (20) Antes, digo que as cousas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios”.

Algumas conclusões preliminares:

  • O artigo Sionismo e Nazismo – A semelhança dos opostos, simula condenar o nazismo, mas, no mínimo, reconhece-lhe alguns méritos: ao falar dos terríveis problemas enfrentados pela Alemanha em consequência de sua derrota na Primeira Guerra Mundial, conclui: “E foi essa situação o que tornou possível a ascensão dos nacional-socialistas, que prometiam a solução de todos os problemas sociais. E o fato é que realmente conseguiram solucionar a maioria deles” [p. 72, grifo meu] e mal consegue reprimir uma simpatia, certamente ambígua, pelo próprio Adolf Hitler: “Mas isso não significa que por trás do estadista violento e obsessivo não pudesse ainda haver algo digno de ser resgatado. O esforço de Einstein, e de todos os que se opuseram a Hitler (supondo que quisessem a paz) teria de ser no sentido não de destruí-lo mas sim de sensibilizá-lo até atingir algo do jovem pintor que demonstrava um anseio interior de paz e harmonia” [p. 84]. E: “Muitos dirão que esta atitude era impossível para Einstein, pois o nazismo não possuía nenhum lado bom. Responderemos então que nenhum movimento pode agregar tantos seres humanos se não possuir qualquer coisa de positivo” [p. 83]. É dessa forma que o autor interpreta as palavras de Jesus, como já citei acima: “Vencer o mal no outro significa fazer-lhe o Bem. É por isso que Jesus falou que devemos amar nossos inimigos, fazendo o Bem àqueles que nos ofendem. Se estão errados, é preciso mostrar-lhes o erro; se agiram mal, perdoar e relevar” [p. 83]. Não é essa a atitude de quem, com uma trave no olho, se arroga o direito de tirar a palha do olho de seu próximo?
  • O artigo visa a alinhar no mesmo lado do campo de batalha cristianismo e nazismo, lançando os cristãos contra os judeus, ao tentar mostrar o nazismo como herdeiro e sucessor do antissemitismo medieval. Cabe lembrar que, no capítulo XI de Minha Luta, Hitler afirma que os arianos foram e são o expoente do desenvolvimento cultural da Humanidade, vale dizer, da Civilização Cristã Ocidental, e portanto a única força capaz de resistir à influência judaica deletéria.
  • O artigo diz negar o Revisionismo; mas acusa os judeus de manipularem de forma hipócrita o Holocausto e amplificarem os males cometidos pelos nazistas por meio de uma Indústria do Holocausto, para acobertar seus próprios objetivos inconfessáveis, transformando assim as vítimas em agressores e os agressores em vítimas.
  • O artigo acusa expressamente os judeus de acalentarem, há séculos, um projeto para dominar efetivamente o conjunto da sociedade gentia, ou seja, o mundo; na verdade, para o autor do artigo, os judeus já teriam implementado tal projeto: “Durante séculos uma elite financeira de judeus esteve à frente das principais casas bancárias, não só alemãs como de toda a Europa, as quais tiveram na usura uma importante fonte de enriquecimento. Paralelamente /…/ o poder político do capital financeiro havia gerado uma rede de influências de dimensões potencialmente mundiais. Composta preponderantemente por financistas judeus, essa rede de interesses pairava como um poder supranacional oculto por sobre todas as nações, que se submetiam secretamente a ela, quando não eram dominadas diretamente por seus representantes” [p. 75]. Essa “constatação” é utilizada, no texto, para demonstrar a legitimidade da revolta nazista contra a extorsão judaica: “Pode-se então perceber que as acusações feitas pelos nazistas aos judeus /…/ não eram totalmente carentes de fundamento factual” [p. 74].
  • O artigo acusa os judeus (ou pelo menos os usurários judeus) de crimes contra a humanidade que ultrapassam em maldade os crimes cometidos pelos nazistas: “Durante a guerra, os nazistas forçaram ao trabalho escravo muitas populações submetidas, enquanto que o dinheiro das finanças judaicas escravizou e ainda escraviza sociedades inteiras” [p. 76].

Fontes

Algumas das ideias expostas no artigo certamente devem ser próprias de seu autor, desenvolvidas por ele ou pelo colegiado de redação da revista, já que o artigo não é assinado. Outras, não obstante, podem ter sua origem encontrada numa obra que teve ampla disseminação na época em que foi publicada, a saber, o livro The International Jew, do notório antissemita Henry Ford. Ford foi o principal responsável pela circulação dos Protocolos dos Sábios do Sião nos Estados Unidos, tendo patrocinado sua impressão e divulgação de seu próprio bolso. Entre 1920 e 1922, Ford publicou no jornal The Dearborn Independent, órgão oficial da Ford Motor Co., uma série de artigos com o objetivo de “esclarecer a história e a natureza do judaísmo e do farisaísmo, desde os dias de Cristo” e denunciar “a manipulação, pelos judeus, dos negócios internacionais”, com vistas à “dominação do mundo”. Cada artigo era epigrafado por uma citação dos Protocolos, e o sexto ensaio lhe era inteiramente dedicado: Uma Introdução aos “Protocolos Judaicos”. Em 1922, os textos foram reunidos em livro, sob o título The International Jew, e tiveram ampla circulação até 1927, quando decisões judiciais determinaram sua apreensão em todas as livrarias e acabaram por levar Ford a uma retratação pública. Agora, no entanto, disponibilizados na internet, os artigos de Ford podem vir a ter divulgação ainda maior.

Assim, a ideia de que a segregação dos judeus na Idade Média fosse espontânea, originada dentro das próprias comunidades judaicas, pode ser encontrada no ensaio Victims or Persecutors?, capítulo 3 do livro:

In any investigation of the Jewish Question, the student is struck over and over again by the fact that what the Jews most complain of, they themselves began. They complain of what they call anti-Semitism; but it must be apparent to the dullest mind that there could never have been such a thing as anti-Semitism were there not first such a thing as Semitism. Then take the complaint about the Jews having to live in ghettos. The ghetto is a Jewish invention. In the beginning of the invasion of European cities, and centuries later of American cities, the Jews always lived by themselves because they wanted to; because they believed the presence of Gentiles contaminated them.

Jewish writers, writing for Jews, freely admit this; but in writing for Gentiles, they refer to the ghetto as an illustration of Gentile cruelty. The idea of contamination originated with the Jews, it is an old oriental survival; it spread by suggestion to the Gentiles. So with this fact of the separate “nation”; it was the Jews who first recognized it, first insisted upon it and have always sought to realize that separateness both in thought and action. [p. 1]

A ideia de que o povo judeu entende a “eleição” como um mandato para buscar o domínio do mundo pode ser encontrada no mesmo ensaio:

Jewish intolerance today, yesterday and in every age of history where Jews were able to exert influence or power, is indisputable except among people who do not know the record. Jewish intolerance in the past is a matter of history; for the future it is a matter of Jewish prophecy. One of the strongest causes militating against the full Americanization of several millions of Jews in this country is their belief – instilled in them by their religious authorities – that they are “chosen,” that this land is theirs, that the inhabitants are idolators, that the day is coming when the Jews will be supreme. [p. 5]

Finalmente, a ideia do domínio judaico mundial, do supergoverno sobre todas as nações do mundo, pode ser encontrada no ensaio The world’s foremost problem, capítulo 13 do livro:

There has been used in this series the term ‘International Jew’. It is susceptible of two interpretations; one, the Jew wherever he may be; the other, the Jew who exercises international control.

The real contention of the world is with the latter and his satellites, whether Jew or Gentile. This International type of Jew, this grasper after world-control, this actual possessor and wielder of world-control is a very unfortunate connection for his race to have. And the significance of this is that this type does not grow anywhere else than on a Jewish stem. There is no other racial or  national type which puts forth this kind of person.

It is not merely that there are a few Jews among international financial controllers; it is that these world-controllers are exclusively Jews. Since world-control is an ambition which has only been achieved by Jews, and not by any of the methods usually adopted by would-be world-conquerors, it becomes inevitable that the question should center in that race.

It is not the point to insist that in any list of rich men there are often more Gentiles than Jews; we are not talking about merely rich men who have, many of them, gained their riches by serving a System, we are talking about those who control – and it is perfectly apparent that merely to be rich is not to control. The world-controlling Jew has riches, but he also has something much more powerful than that.  [p. 4]

(…)

There is a super-capitalism which is supported wholly by the fiction that gold is wealth. There is a super-government which is allied to no government, which is free from them all, and yet which has its hands in them all. There is a race, a part of humanity, which has never yet been received as a welcome part, and which has succeeded in raising itself to a power that the proudest Gentile race has never claimed. [p. 6]

e também no ensaio The high and low of Jewish money power, capítulo 14 do livro:

Jewry emerged from the 1914-1918 war more strongly entrenched in power, even in the United States, than it was before. In the world at large the ascendancy of the Jew at the present time is even more marked. In those countries which can justly be called unfriendly to the Jew, now or in the recent past, the rule of the Jew is stronger than anywhere else. The more they are opposed the more they show their power. At a moment when, as all Jewish spokesmen inform us, there is a world-wave of “anti-Semitism,” – which is their name for a new awakening of people to what has been going on – what should occur but that at the head of the Chief Magistracy of the Worlds a Jew appears. Nobody seems to know why. Nobody can explain it. [p. 4]

Para encerrar, quero observar que esta aproximação entre a revista Humanus, os Protocolos dos Sábios de Sião e O Judeu Internacional de Henry Ford revela uma coincidência no mínimo curiosa: a marca particular dos Protocolos não está nas acusações que fazem aos judeus. Na verdade, as alegações de que os judeus conspiram pelo domínio mundial, manipulam as finanças internacionais, controlam os órgãos de imprensa, etc., começaram a circular desde a Revolução Francesa. No início, as acusações eram dirigidas contra os maçons; com o passar do tempo, foram redirecionadas para os judeus. O que sim torna os Protocolos uma peça única no arsenal antissemita é o fato de que são apresentados como textos escritos por judeus. Seriam atas de sessões altamente secretas dos “Sábios de Sião”, reunidos para desenvolver e implementar os planos judaicos de dominação mundial. Ora, como informa Lidia Carmeli, jornalista responsável pela Humanus, em resposta à carta de um leitor: “… esclareço que eu, a jornalista responsável pelo anuário, sou de origem judaica, e que pelo menos 50% dos membros do Conselho Editorial também o são, conforme se pode notar por seus sobrenomes, publicados no Expediente” [num. II, p. 12]. Ou seja, estamos de novo diante de textos escritos por judeus, repetindo-se a estrutura dos Protocolos.[1] A questão de saber se esses “sobrenomes” correspondem a pessoas físicas reais, com RG e CPF, é secundária. Mesmo que sejam pessoas reais, efetivamente de “origem judaica”, isto não é nenhuma garantia de que tenham percebido o real conteúdo dos textos que endossaram. Além disso, fazem parte da história judaica os muitos casos de “convertidos”, como Torquemada, fundador da Inquisição Espanhola, que, ao deixarem de ser judeus, fizeram contra os judeus o que poucos nazistas ousaram fazer.

*  *  *

2001 – 2023. Duas décadas passaram, e agora importa refletir sobre a questão: o perigo neonazista foi derrotado e eliminado, ou pelo menos atenuado? Aparentemente, não. Muito pelo contrário. O mundo parece vir migrando para a direita, os partidos de direita veem seus eleitorados expandir. Partidos de extrema direita se confederam em escala internacional e chegam ao poder em vários países – inclusive no Brasil (felizmente, por apenas um mandato) – pelas vias eleitorais; os discursos de ódio se multiplicam, grupos neonazistas proliferam. O inimigo está agora mais bem municiado e utiliza com muita eficácia a fabricação e difusão massiva de fake news, turbinadas pela conivência de poderosas plataformas de redes sociais, as chamadas big techs. As manifestações contra judeus, negros, indígenas, comunidades LGBTQIA+ e outros grupos minorizados não param de crescer.

Neste panorama, como não lembrar da constatação de Walter Benjamin, na sexta de suas Teses Sobre a Filosofia da História, “captar no pretérito a centelha da esperança só é dado ao historiador que estiver convicto do seguinte: se o inimigo vencer, nem mesmo os mortos estarão a salvo dele. E esse inimigo ainda não parou de vencer”[2]. Só nos cabe, então, redobrarmos a atenção e denunciarmos toda e qualquer manifestação que vise à exclusão de grupos minorizados, para que eventos como a Shoah não se repitam.

[1]     Agradeço à Dra. Eva Landa que, em comunicação pessoal, indiciou essa semelhança estrutural entre os Protocolos e a revista Humanus.
[2]     Benjamin, Walter. “Teses sobre a filosofia da história”, trad. Flávio R. Kothe. São Paulo: Ática, 1991, p. 156.

Imagem: Parábola dos Lavradores Maus – em Lucas, Marcos e Mateus (gravura de Jan Luyken, 1703)

Sobre o autor

Saul Kirschbaum

Doutor em Letras pelo Programa de pós-graduação em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas da FFLCH/USP e pós-doutor pela UNICAMP. Pesquisador do Grupo de Judaísmo Contemporâneo, do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo /PUC-SP – LABÔ.