
O mundo parou para olhar para a chaminé instalada na Capela Sistina, no Vaticano, anunciando, através da fumaça branca, que um novo Papa havia sido escolhido pelo Colégio de Cardeais. Imediatamente as pessoas tomaram a praça de São Pedro e a Via della Conciliazione, aguardando o nome e o rosto do novo pontífice. O protodiácono, do balcão da Basílica Papal de São Pedro, fez o anúncio mais esperado dos últimos dias: Annuntio vobis gaudium magnum: habemus Papam, Robert Francis Cardeal Prevost, que se impôs o nome de Leão.
Como na literatura bíblica, a troca do nome, ou a imposição de outro nome, tem relação com a missão assumida: Abrão se torna Abraão (cf. Gn 17,5), Sarai será Sara (cf. Gn 17,15) Jacó se chamará Israel (cf. Gn 32, 28). No Novo Testamento, Simão, o primeiro Papa, passa a ser chamado de Cefas, por Jesus (cf. Mt 16,18). Ao longo da história da Igreja, a partir do século VI, com o Papa João II, surge o costume dos Papas assumirem outro nome, indicando a direção que devem conduzir o seu pontificado. Não são escolhas aleatórias, mas simbólicas.
Leão, é uma imagem do Apocalipse: o leão da tribo de Judá (cf. Ap 5,5), mas é também a imagem com a qual se retrata São Marcos evangelista. Em 440, sobe à cátedra de Pedro o primeiro Papa Leão, cujo nome de batismo era Leão mesmo, anos depois ele será conhecido como o Grande ou o Magno. Com o passar do tempo, treze Papas adotaram esse nome, cada um deles imprimindo as suas características no papado, estando sempre preocupados com o momento histórico da época. Dos Leões vieram: canonizações, orações, defesa da doutrina cristológica, excomunhões, nomeações.
O último Papa Leão foi eleito em 1878, conduzindo a Igreja do século XIX ao século XX. Inseriu o pensamento da Doutrina Social da Igreja, a partir da carta encíclica Rerum Novarum, chamando a atenção do mundo para os problemas emergentes daquela época. Leão XIII reflete e transmite o pensamento social aos crentes, além da encíclica supracitada, ele abordou temas como: os males da sociedade, o socialismo, a escravidão, mas também temas acerca da: eucaristia, do clero, do rosário, da filosofia cristã, para citar apenas alguns. Olhando para o que se tinha como modernidade naquele momento, Leão XIII soube transitar entre o Depósito da Fé e o diálogo com o mundo atual.
Ao escolher o Cardeal Prevost, os cardeais dizem que a Igreja precisa de um Papa cosmopolita, atento às necessidades do povo, sobretudo, aos mais vulneráveis. Querem alguém que dialogue com a sociedade hodierna, mantendo a fidelidade ao ensino doutrinal da Igreja. Apresentam um Papa que tem o espírito de Francisco. Nesse sentido, na história do franciscanismo, Frei Leão é amigo de São Francisco, foi secretário e confessor do pobrezinho de Assis. Ao que parece, Leão XIV era próximo do Francisco de Roma e continuará o seu legado. Vale lembrar, que a Igreja não escolheu um sucessor de Francisco, mas sim, um sucessor de São Pedro Apóstolo.
Leão XIV é um papa religioso, agostiniano, com 69 anos, de perfil conciliador e diplomático, nascido nos Estados Unidos, entretanto, com um trabalho pastoral intenso no Peru. Possui vasta experiência de governo, tendo sido superior geral dos agostinianos, é conhecedor da Cúria Romana, uma vez que era Prefeito para o Dicastério para os Bispos, possuindo ainda doutorado em Direito Canônico. Essas são só algumas das qualidades e experiências do novo romano pontífice, além de outras características pessoais que observaremos ao longo dos próximos anos.
Em seu primeiro discurso o novo Papa desejou a paz do Ressuscitado que é “desarmada e desarmante”. Lembrando-se do Papa Francisco, Leão XIV fez ecoar suas palavras, recordando que estamos todos nas mãos de Deus, falou da necessidade de construir pontes, diálogo, encontro e paz. Citando Santo Agostinho, seu pai fundador, o pontífice, recordou que para a Igreja ele é Papa e com os fiéis ele é cristão. Uma alusão clara ao sacerdócio batismal que o Povo de Deus possui e, ao mesmo tempo, evidenciou a capacidade de caminhar juntos numa perspectiva sinodal, algo tão caro a seu predecessor.
Tratando da escolha do seu nome, o Papa Leão XIV, disse ter se lembrado de Leão XIII, uma vez que: “hoje, a Igreja oferece a todos a riqueza de sua doutrina social para responder a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial, que trazem novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho” (Discurso aos Cardeais, 10 de maio de 2025).
Temas relacionados à paz, a imigração, aos marginalizados, as questões tecnológicas e climáticas, éticas e sociais, entre outros, certamente estarão na pauta desse pontificado. Também a vida intraeclesial deve ser contemplada: o anúncio do evangelho, a Missão Ad Gentes, o testemunho da fé de modo crível, o primado de Cristo na vida da Igreja, a continuação da reforma implementada pelo Concílio Vaticano II, a necessidade de crescer na colegialidade e sinodalidade, mantendo um “diálogo corajoso e confiante com o mundo contemporâneo”, são alguns dos pontos ressaltados pelo Papa em sua primeira missa e em seu discurso aos cardeais.
Muitas são as especulações do que virá a ser esse pontificado. O nome Leão sinaliza, mas não reduz. Diz muito, mas não diz tudo. Podemos fazer diversas elocubrações, previsões e adivinhações. Podemos analisar o que fez o padre, o bispo, e por fim, o Cardeal Prevost. Entretanto, o que sabemos do novo Papa até agora é que: Leão é o seu nome! Vida longa ao Papa Leão XIV!
Notas
Bíblia de Jerusalém. Edição revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2006.
LEÃO XIV. Discurso aos cardeais em 10 de maio de 2025. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2025-05/papa-leao-xiv-encontro-cardeais-10-05-2025.html
LEÂO XIV. Homilia da primeira missa após o conclave. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2025-05/papa-leao-xiv-homilia-missa-capela-sistina-apos-eleicao.html
PIERRARD, Pierre. História da Igreja. São Paulo: Paulus, 2006.
Imagem: Vatican Media
